quarta-feira, 16 de maio de 2012

Antes e depois


Cresci com a ideia que nunca mais te iria ver, quando antes de nascer planeámos os nossos destinos, julguei ter lido corretamente o contrato que Ele nos dera a assinar. Mas não, há que ler bem cada contrato, as linhas mais pequeninas que os mais astutos colocam em roda-pé...
Naquela manhã  fria em Hamptonville, tive a infelicidade de quebrar a regra mais importante nessa minha missão tão honrosa.."um ceifeiro nunca olha nos olhos da sua colheita.". Quando naquela manhã esperei por ti no canto da rua, relendo como teria que o fazer, não dei p'la tua saída do número 67... foi fulminante! Lembro de  cabisbaixar para apagar o cigarro, e no segundo seguinte, os teus olhos cruzaram a esquina onde eu me encontrava. Foi me fatal. acredito que os teus olhos não sejam os mais belos, mas para um ser como eu, obrigado a andar de olhos postos no asfalto, vislumbrar a iris da sua presa é algo mágico, altamente desejado.
A vida virou do avesso! Não morreste às minhas mãos, tentei-te esconder, mas foi escusado... Ele sabe de tudo, mesmo antes de acontecer, pois é ele o autor da nossa e de todas as histórias...
Fomos ambos castigados. Perdi o que mais amava, as minhas asas, e fui obrigado a nascer para uma vida que sempre abominei... tudo porque te olhei e me deixei seduzir p'lo fruto proibido.
Cresci com a ideia que nunca mais teria  a infelicidade de voltar a ver os teus olhos, mas estava enganado. Quando naquela tarde de Outubro entraste e tomaste todas as minhas atenções sobre ti, eu reconheci-te! Estás tão mudado, mas ainda tens aquele brilho especial no teu olhar.
Afinal é a presa que caça o caçador...

Continua...

Renato Machado

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Loucura

Vivi na tua noite
Apanhei todos os pontos de luz
Caídos no soalho da tua alma,
E fiz fogo onde a vida não queria existir.
Lá fora o escuro entope as estradas
E as mãos que outrora sabiam o caminho de retorno,
Andam perdidas em candeeiros reluzentes...
Já não sou a mão que outrora fui...
A língua sem medo de se expressar,
O pensamento que vagueava sem receio da confusão...

Gastei os passos contando os dias
E os dias pisando as pedras dos teus passos...
Nada foi mais belo que a noite em que te perdi
Nem mesmo mesmo quando julguei morrer.
Falei das luas que nunca quis contar,
Tive medo de ao teu encontro não me atrasar...
E o que foi?
Palavras são fruto da nossa imaginação...
Ah, eu cá não!
Porque nada foi mais belo
Que a noite em que te perdi...
Nada é eterno
Nem mesmo a vontade de ficar aqui...

RENATO MACHADO