quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quero...

Quero dar um passo
Não…quero mais, quero dar dois!
Quero um abraço,
Quero um regaço,
Quero mais, quero espaço,
Quero o antes, o agora e o depois…
Quero saltar de sonho em sonho,
Quero navegar daqui para acolá,
Quero sentar-me e beber chá,
Quero tudo aquilo a que me disponho,
Quero o mundo, quero deus, quero alá!

Mas a vida não é assim
Não basta sonhar
Não vale a pena implorar,
Não me cai do céu o pó de perlimpimpim…

Quero dizer adeus ao chegar
Quero saudar na despedida,
Quero ser eu a assinalar a partida,
Quero ser um carro de corrida,
Quero prazer e me presentear
Com o que há de melhor e pior na vida.
Quero um beijo roubado,
Roubar o destino que não me pertence,
Quero eliminar aquilo que me vence,
Para me poder desprender
Voltar a ser
Recomeçar a viver,
Sem viver no passado.



Renato Machado

terça-feira, 27 de abril de 2010

Rir a bom rir

Rir a bom rir
Como prata barata, mesmo assim reluzente!
Fartotes e pinotes…
Desdenhar de consortes…
Rir do mal e de todas as mortes,
Porque a comédia é o sangue dessa gente!
Rir que é bom rir…
Mentir tem sorrir,
Tem o futuro que há-de vir…
E o passado que nem ressuscitado voltará a surgir.
Gargalhadas de alívio e suores frios,
Tempos levados em mil águas
De mil rios.
Gargalhadas de contentamento…
Rir a bandeiras despregadas,
Aortas bombeando aceleradas,
Sangue garrido apressado como o vento!
Já que rir é apenas rir
E sorrir é tantas vezes fingir,
Então, a felicidade de tantos faz-se de mentir.
Faz-se do fermento explosivo da emoção contagiante,
De acontecimento repentino, inesperado, cavalgante,
E desatamos a rir!...
Mal ou bem,
É esta pequena felicidade que a todos convém.
Mal ou bem…
Pena daquele que não a tem…
Rir e voltar a rir…
Chorar vezes sem conta de tanto rir!
Faz rugas… mas faz sentir,
Que a tristeza,
Com certeza,
Essa há de um dia vir.



Renato Machado

terça-feira, 20 de abril de 2010

Lágrimas

Uma lágrima é um mito,
Uma lenda que vai descendo suavemente
Contando fábulas de passados menos felizes
Que a gente escuta atentamente
Sentindo o sal na nossa pele dormente,
Como se fosse impelida a vontade de soltar um grito.
Uma lágrima é diamante bruto do coração
Extraído pela pá e a picareta da emoção.
Uma lágrima é fruto tantas vezes maduro.
Que cai com o passar das eras.
Das lágrimas também nascem as primaveras…
Lágrima é fruto rijo na verdura da vida,
Que se agarra ao que a contém…
Já que chorar não se digna por ninguém,
Pois o esquecimento é tantas vezes uma lágrima contida…



Renato Machado

informações sobre o autor

atraves deste meio, faz-se saber que renato machado, esteve nos passados dias 16 e 17 de abril, integrado na semana da juventude, com uma exposiçao de alguns dos seus desenhos na sede da assossiação almadrava em santa luzia.
faz-se também informar que o autor está já a preparar uma nova exposiçao de poemas ilustrados, poemas que pode encontrar neste blogue.

Teatro do meu “Faz de Conta”

Quando nos foge a alma… foge-nos tudo.
Os ramos, os galhos quebrados à sua passagem,
Os verdes esmeralda que ao longe nos falam…
O mundo pára quieto, surdo e mudo.
Até o vento deixa de circular por entre a paisagem,
No vazio de vozes estridentes que ali se calam.

O interior tenta em vão a escapatória,
O passo em frente… não tem fama, não tem glória…
Porque o que a ninguém pertence,
Por ninguém luta, nem sequer a si se vence,
Quanto mais, vincar assento no platô vivo da história.

“Palmas à dona Alma e à sua coragem!”
E todos aplaudem de pé a exímia actriz,
Aquele vulto virtuoso que cala quando a si mesma o diz:
“Felizes aqueles alheios à minha imagem…”

Oh que gente tão bem vendada na cegueira da vida!
Qual foi a lição não aprendida, mal ensinada,
Qual foi a palavra que não lhes foi assimilada
Qual a lição desprezada de guarida?

Não se abandona o palco repleto de palmas
Muito menos quando este ainda respira uma réstia de luz.
Mas são tantas as minhas “donas Almas”
Quando perco a noção de quem me conduz.




Renato Machado

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O barco vai quando há bonança…

Não aceito devoluções
Nem reclamações de sentimentos gastos.
Desculpem, mas por hoje fechou…
Quem julgam ser?
Quem julgam ser neste circulo de varões?
Nada depende do que quero dar,
Somente a intenção com que as quero receber…
Não foi a minha alma que se esgotou,
Muito menos a garra, a fúria que se emancipou!
Só estou cansado de todos os dias me defender…

Quem come um prato de vaidade
Não engole a seco a humilhação…
Mas quem se senta à mesa na cadeira comida p’la humildade,
Tem fome de tudo que vê
Esquecendo-se tantas vezes a dignidade…
De tantas vezes que nos apodrece o coração.

Nem cavalo nem espada.
Nem força para as arreias da confiança…
“Espera filho… o barco vai quando há bonança…
Espera filho… a noite é uma criança.”



Renato Machado

terça-feira, 13 de abril de 2010

Paralelos

Lá ao fundo, vejo a invisibilidade
As formas que se pavoneiam e troçam de quem não as vê…
Dançam freneticamente entre os braços da ventania
E gracejam movimentos de alegria
Como se a cegueira fosse a sua magia…
Como se a cegueira fosse dom prodigioso digno de gratidão…
Minha estranha maldade,
Meu pedaço de nada sem piedade…
Meu fruto inglório aos infortúnios da solidão.

Silêncio…
Elas caminham lá de longe pisando flores,
Cada passo, cada impulso…cada nota… cantada por entre respirações…

Não venham tarde… venham com o cair da escuridão.
Mas não batam a porta,
Entra simplesmente, como se o meu mundo fosse vosso,
Como se o ar que respiram fosse vosso…
Como se o meu coração fosse o vosso…
Espero… sem querer uma razão.

Não deixem que eu me desprenda,
Cortando as amarras que me prendem ao vosso lugar.
Quero continuar a ver o que não existe,
Como se existisse e fosse a realidade em mim soberana.
Porque o que os outros vêm, é apenas uma forma humana
Imperfeita, sem emenda
Desprezando até a sua corrigenda…
Quero apenas ver e saber que é na ilusão que quero ficar…
Para sempre o meu eterno lar…

Adeus não digo…
Apenas agradeço,
E assim da realidade fria me despeço,
Pois é por este caminho que agora sigo.




Renato Machado

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Trono de São Fiel

Enormes, vastos, volumosos!
Semelhantes a balões de ar quente flutuando…
Cores… sóis! Infinitos como a felicidade!
E sorrio aos desejos que me pintam a imaginação,
Como uma alegre canção,
Cantada entre gargalhadas colhidas na horta da ingenuidade,
Com a minúcia precisa nos dias calorosos…
Nos dias que te vou em mim cantando.
E corre para os tapetes tonificados de verde amarelado,
Rebola na espuma que brinca na rebentação…
Inventa histórias coloridas que ninguém vê…
Há melodias que não se escutam, mas a alma as sente!
Vem de longe quem as sente,
Para sentir o arrepio gélido que em si o crê!
Porque para cada sonho existe uma canção,
Existe vida que lateja ferozmente de emoção,
Existe o presente, um futuro, a quem não se tem medo de dizer:
Eu também sou feito de passado!




Renato Machado

segunda-feira, 5 de abril de 2010

My Sweet July

Quero fugir daqui…
Quero ter palavras soltas,
Quero libertar os meus pensamentos negros,
Porque não há cor de onde vim…
Não há luz no céu, no lugar onde nasci…

Lateja-me as veias o sufoco de não poder estar comigo,
O sufoco de ser eu mesmo, o meu inimigo…
O sufoco de não conhecer em mim mesmo,
O meu abrigo…

Rasga-me o corpo o sorriso jogado sem qualquer sentimento,
E o olhar preocupado, que nem no fundo tem preocupação…
E quero fugir até de mim…
Apenas sei que não quero estar cá quando for o fim,
Para sem medos, poder sorrir, gargalhar de satisfação!
Rir, pois o mundo tem mais para me dar então,
Sentir que se findou em mim, o meu sofrimento….

És apenas mais um que se vai,
Mais um que parte sem nada me dizer…
Mas eu não tenho a culpa de não ter amor para dar,
Se o teu amor nunca o tive a receber…
A pequena lágrima que agora me cai,
Não é por tristeza por te perder,
Mas liberdade em mim a nascer…




Renato Machado

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Alice

Olha Alice! Têm cores…
Assumem formas irreais!
São pequenos nadas feitos de louvores,
Pequenos enganos e desamores,
Pequenos golpes, singelas dores,
As cores vincadas de todos os teus ais…

E nada vem por acaso ou ocasião,
Nem porque a vida decide-se esbanjar em agrados,
Só Alice enxerga o que é real…
Só ela distingue o que é o bem, o que é o mal,
Só ela sabe que o Criador não é alucinação…

Alice…
Os cânticos são infindáveis,
As nuvens correm sem saber o destino que as faz chegar…
Quem me dera que também ela não o visse…
Pobre Alice…
Até o teu mundo há-de findar…
Nem as tuas memórias são memoráveis,
Alice, cuida para que a tua sombra não se deixe apanhar…






Renato Machado