terça-feira, 30 de março de 2010

São Pessoas...

Não quis esperar que a saudade batesse na sua morada,
E partiu desejando que o amor tivesse um dia lá vivido…
Não entendeu que o sentimento desejado
Fora por ele o mais desprezado,
O mais mal acarinhado…
Aquele que mesmo antes de morrer, nunca havia de ter nascido…
Mas nem sequer sentiu o cheiro da curiosidade
Ou o simples peso que o vazio tantas vezes oferece…
Não… sentir, sentiu o impulso que lhe indicava a saída,
A romaria, rumando ao que seria a sua vida,
Ao que seria para todo o seu sempre, a sua verdade.
E deixou-se levar, tal força vencida que a memória esmorece.
Logo se viu na luz negra que lhe envolvia,
Como um laço bem apertado massacrando as suas esperanças…
Porque amor, não havia!
Quem amar… não existia…
Saber amar, nem sequer o sabia,
Pois nem de sentimentos vividos, viviam suas lembranças…

São pessoas, só pessoas…




Renato Machado

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Beijo

Será proeza tamanha a sabedoria de amar livremente?
Os seus dedos rodopiam na incessante trégua sem razão…
Se as memórias alimentam as sensações,
Se os gritos escutados, são bramidos de corações,
Para quê esconder aquilo que de veras se sente?
Não será gesto este mais prudente,
Que viver na própria negação?
E os impulsos que são humanos,
Escondem-se por detrás do pano opaco translúcido
Com medo até de poder voltar a sentir a liberdade…
A estranha sensação de ser livre para amar!
Como se a sua alma fosse livre de se ausentar,
Dos deveres por si impostos, desumanos.
Mas é dele a vontade de se sentir oprimido,
Dele a vontade e a força de se conquistar…
E poder amar,
E voltar a amar…
Amar, ser livre de amar… no beijo da liberdade!





Renato Machado

domingo, 28 de março de 2010

Nova Etapa

Cheguei ao fim de mais uma estrada
E o futuro está para lá daquele cruzamento
O cruzamento que me chama e diz para crescer
Que me diz para seguir em frente
Pois atrás aperta no engarrafamento de tanta gente…
Sinto em mim o pulsar da batida acelerada
Que me dá impulso a cada momento
Como se fosse maior a necessidade de o dizer.

Mas sei que o fim é somente mais uma luz que se inicia,
Que treme a medo e diz-me para a seguir.
Mil e um significados em que posso deduzir….
Há que saber qual o melhor para me impingir,
Afinal, é mais que uma fase,
É a minha próxima estadia.

Então calço as sandálias já gastas da caminhada
E parto em busca do que é desconhecido
Mas que sei que existe.
Está para lá daquilo que não tenho, mas almejo
É só um desejo…
Uma linha que quero deixar bem vincada
No que é me imposto, no que me é pedido.
Não tem nada de triste,
Apenas a ambição que em mim persiste.



Renato Machado

segunda-feira, 22 de março de 2010

Velha Canção

Não posso oferecer o que não tenho,
Mas posso querer o que não é meu…
Porque a liberdade de alcançar o alheio
É-me tão certo como o mundo ser um copo meio cheio,
Onde o que não se afogou, morreu.
Onde a mão que lanço, vem cheia quando a mim venho…
Misterioso é querer o que me pertence!
Como um golpe baixo que a mim me vence…
Certeza de querer o mundo dos outros…sim.
Porque o que tinha de eufórico, esvaiu-se…
Foi-se, sumiu-se…
Até julgar não ser tão mau o fim.

E no resto que sou, sou Abril,
Sou a primavera que vai raiando sol no que há em mim.
Mas até as andorinhas não são eternas…
As alegrias são fugidias quando se vêm com pernas,
Vão alucinadas, beber copos nas velhas tabernas,
Vão derramar vinho no imaculado cetim…
Vão ser aquilo que julguei guardar para o fim…
Porque até em mim, o lembrado torna-se senil.

Já não quero o que não me pertence
Vou esperar simplesmente que o calor do verão
Me lave as dores com panos frios,
E me ensope os pensamentos no turco da sua compreensão.
Porque aquilo que não me vence,
Unifica os meus arrepios,
Como se me cantassem uma velha canção.

Renato Machado

sábado, 20 de março de 2010

Perspectivas de Futuro

Não sou de papel
Nem nunca o sequer ambicionei ser.
Carne e osso,
Sou o que sou, sou o que posso,
Rindo aqui…chorando ali…
Nem Deus sabe quando nasci!
Quanto mais benzer-me a testa com mel…
Sou assim, só para contradizer.

Quando quero, fecho a loja, faço gazeta,
Vou passear à baixa dos meus passados,
Vou mandar pedras aos gatos no quintal da minha recordação.
Apanho a carreira do “já esquecido” na próxima camioneta…
Vou olhando pelos vidros embaciados,
Pedaços de mim, por mim abandonados,
Mas também, nem por eles tenho afeição…

Acho que ainda me hei-de rir da minha tristeza,
Por julgar ser ridículo a felicidade com dizimas da fortuna.
Mas eu sou assim, contradizendo os meus apertos,
Vou por caminhos quase sempre incertos,
Provando a mim mesmo que não nasci para ser religioso,
Quanto mais, receoso!
Só o que me é inato é a rudeza
No confronto, frente-a-frente com a minha lacuna.



Renato Machado

sexta-feira, 19 de março de 2010

Guarda-Jóias

Vou neste caminho desalinhado
Como se a parte mais próxima de mim
Fosse a distância que me une os segredos,
Os alicerces robustos ignorantes aos meus medos,
Que se revoltam cá dentro, tal tamanho frenesim,
No corpo entregue ao eterno segundo realizado.

Os cantos e recantos escondidos da minha essência
São vastos, são infinitos,
São carreiros de pedras roladas, macias à passagem.
São guarda-jóias que se mostram com imponência,
Vitrinas expositoras de sentimentos bonitos,
Que nada mais são que uma manipulada imagem.

E o pequeno diamante reluzente
Está feliz por ser forte,
Por saber as lapidadas sofridas…
As forças inatas por si erguidas,
Pois é pedra sem coração que, inexplicavelmente sente,
Até mesmo o arrepio da morte.




Renato Machado

sábado, 13 de março de 2010

SKINY JEANS

Vem beijar o meu corpo num segundo,
Vem dar-me a vontade de querer parar o espaço temporal,
Vem viver o momento…
Apenas dois desejos… um só desejo… um eterno momento!
Já nem sinto saudade, nem pressa de chegar ao mundo.
Acordar? Seria sofrimento!
Quem sou eu para querer tal tormento,
Se o que desejo, é no fundo,
O teu pecado original?

Vem bailar naquilo que é meu,
Como se a vontade de o realizar falasse mais alto que a fome!
Porque é fome de alma, fome do que é teu…
Fome de prazer, fome de ser feliz!
Que tem mal na alma quando a verdade assim o diz? …
Quem não quer ser feliz?
Quem não quer aquilo que sempre o quis?
O diabo leva a alma desamparada, que na secura a consome…

Vem… beijar meu corpo no passar das horas,
Vem dar-me sabor ao insonso que é o meu gosto…
Vem olhar-me de azul o meu castanho…
Vem ver como um segundo é belo, de seu imenso tamanho!




Renato Machado

quarta-feira, 10 de março de 2010

Não o fales em inglês

Calma… não carece de pressa.
Passo a passo, devagarinho,
Tudo se faz, tudo tem a sua vez…
Hoje a palavra que se confessa,
O olhar roubado quando teu corpo me atravessa…
Mas não o fales em inglês!

Não digas palavras para a qual não tens um sentido,
Diz-me o dia-a-dia,
Uma palavra vaga… para mim já é alegria!
Um sorriso… uma expressão…
Pouco a pouco… o meu coração!
E sem o perceber, ao teu encontro, terei sorrido.

O mundo não acaba amanhã…
Toca nas pequenas maravilhas da aventura!
Toca em mim, toco em ti… será ternura…
A felicidade no pecado dentado na nossa maçã.



Renato Machado

segunda-feira, 8 de março de 2010

Carta ao Amor

Hoje apeteceu-me dizer que penso em ti… tem dias que acordo contigo no pensamento mas, nem sempre tenho coragem de o admitir.
Há dias que anseio pela tua imagem no meu pensamento, desejando até que aquela imagem móvel, mas muda, diga aquilo que naquele momento quero ouvir. Mas a tua imagem não fala…ou pelo menos eu não consigo que a minha imaginação vá mais longe que isso. Talvez nesses dias, deva pensar com um pouco mais força… talvez assim resulte. Nesses dias quase que sou feliz sem o saber…
Tem dias que o que menos desejo é ter-te no meu pensamento! Irra! Tudo aquilo que me faz lembrar de ti, tudo aquilo que olho, toco, ouço ou simplesmente sinto, dá-me uma tremenda vontade de partir, de despedaçar! Mas evito. Então fujo para bem longe, para um sítio calmo onde haja algo que me faça mudar de ideias. Nesses dias assim, tenho medo de mim, medo do que faço ou deixo de fazer. Sinto-me inseguro, sem certezas de nada! É nesses dias que para mim és somente uma dor de cabeça que teima em não se extinguir.
Outros dias, penso em ti como se fosses um “pensamento do dia” que toda a gente escuta sem tomar a devida atenção. Ando descansado, sempre contigo lá no fundo, no lugar mais refundido do meu pensamento, que me faz nem sequer perceber que lá estás… mas estás por lá! Quando isso me acontece significa que estou completamente tranquilo, comigo, contigo, com todo o mundo à minha volta. És como uma canção que antes me fazia companhia nos testes de geometria…
Naqueles dias em que sinto um vazio por dentro, uma estranheza, uma leveza na mente, apercebo-me que ainda não te dei a devida atenção. Então, lá ando eu muito preocupado, com medo de te poder esquecer por alguma eventualidade. Ando feito uma barata tonta que não sabe o que faz, que, com tanta tarefa, acaba por confundir e baralhar as ideias… nesses dias andas perdido entre as compras do supermercado e o lembrete de aniversário de alguém…200g de queijo…tu…aniversário da Rita…tu… pagar a conta da luz deste mês… tu… sempre assim. Quando esta confusão acontece (curioso…), chego ao final do dia com a sensação de auto-controlo, que sou capaz de coincidir tudo, de segurar todas as pontas. Sinto-me responsável, capaz de te ter a ti e ao resto da minha vida.
Hoje, logo hoje que arranjei coragem de admitir que penso em ti, decides por capricho que, não queres ser mais que um pensamento! Mas se já me és familiar, já fazes parte do meu dia-a-dia (é que não há um único dia que não penso em ti pah!), já que fui capaz de admitir coisas que me embaraçam…desculpa, mas não vou deixar a tua ideia para trás só porque tu decidiste por teimosia que, pensamento é pensamento e, realidade é realidade!
Vou continuar a pensar em ti, quer tu queiras quer não…quer tu existas, quer não!




Renato Machado

sábado, 6 de março de 2010

p'ra fugir da rotina de poemas...

Reparem bem neste pequeno diálogo que no outro dia surgiu dentro da minha cabeça…

- No outro dia dei por mim a pensar em coisas que tenho saudades…
- Ah sim? E o que foi que te lembraste?
- Olha… tanta coisa! De jogar ao berlinde por exemplo!... De coleccionar os cromos e não comer os Bollycaos… tenho saudades daquele ano que íamos para a escola e ainda o sol não tinha nascido… lembras-te disso?
- Não. Era muito pequeno nessa altura. Só o sei porque tu já me contaste isso, dezenas de vezes!
- Pois é, marcou-me… e tu?
- Eu o quê?
- De que é que tens saudades?
- Sei lá… nunca pensei muito nesse assunto. Mas agora que falas nisso…acho que tenho saudades de ser criança… principalmente, tenho saudades das vezes que ralhavas comigo…
- Saudades disso?! Porquê?
- Sei lá eu… não sei, mas cada vez que penso naquele tempos, fico com um aperto bom no coração. Fico feliz… não sei explicar bem, mas não época, eu ficava triste cada vez que ralhavas comigo, mas hoje entendo essas atitudes de outra forma. Então fico feliz ao perceber que naquela época era protegido.
- Quê? Ficas feliz só porque eu ralhava das asneiras que tu fazias? Tu não regulas…
- Sim! Que queres tu que eu faça? Naquele tempo era livre e não tinha responsabilidades. Apesar de fazer as coisas mal e levar raspanetes por isso, tudo acabava bem! Lá vinhas tu e resolvias o que havia p’ra resolver…
- Então, mas hoje és crescido! Já tens idade p’ra saberes cuidar de ti!
- Eu sei! Por isso é que tenho saudades! Sabes, é que quando somos pequenos, dependentes, queremos mais é que o tempo passe depressa! Estamos sempre a disparar: “nunca mais faço 18 anos!”… mas quando chegamos lá e vemos que estamos por nossa conta…
- Isso é verdade. Mas a liberdade tem tanta coisa boa…
- Mas não tem aquilo que me faz ter saudades de ser criança…
- O quê?
- Ora esta! Já disse! Tenho saudades de me sentir protegido! A liberdade, e dizes bem, dá-nos muitas coisas boas: uma vida pessoal, a nossa independência, a tal vida longe dos pais… saímos do mundo que sempre conhecemos e entramos num mundo completamente novo! Apesar de tudo isto, tenho saudades de poder cometer erros e ser perdoado, saudades de ter aquele porto de abrigo…
- E na liberdade também o tens.
- Sim, também. Mas aí passamos nós também a ralhar com os outros porque passamos a ter o tal sentido da preocupação… começamos nós a ser o porto de abrigo de alguém…
- Essa conversa parece-me um tanto ou quanto egoísta.
- Talvez… mas acho que é, principalmente, medo de crescer, de perceber que na minha vida, mas tarde ou mais cedo, terei que lhe tomar as rédeas, percebes?
- Cresce…
- Está bem. Irei crescer quer o queira, quer não… mas por favor, nunca deixes de ralhar comigo!





Renato Machado