sábado, 17 de outubro de 2009

Barbie

A boneca estava sentada na prateleira,
Onde outrora se fartaram dela…
Por dela se terem cansado...
O pó remoinhava na sua cabeleira,
O vestido pregueado perdia a cor verdadeira,
O encanto nos seus lábios já não tinha significado.
Sem poder mostrar o que lhe vai lá dentro,
Nem sabe o alívio do que é chorar!
Assim custa sempre mais a sarar,
(a ferida de purpurinas no lixo jogado)
Por não poder mais permanecer no centro…

Os seus olhos sem vida não se conseguem fechar,
Triste boneca jogada ás traças do esquecimento.
Ali no alto, planeia dali se jogar,
Espatifar-se no chão e, por fim acabar…
Ser levada pelas ondas de quem lhe apanhar,
E lhe der o pouso do seu merecimento.

Então deixou de acreditar na esperança.
Descansou no seu lugar alojado entre pó e solidão…
A vida morava na prateleira ao lado,
E ela… espectadora no seu beirado,
Nem reparou na desconhecida criança,
Que lhe sacudiu com carinho as pregas do vestido,
Com cuidado, aninhou-a junto ao seu pequeno coração…

“Olá Barbie, sou a tua nova amiga”

Renato Machado

Minha Forma de Ver

Meu coração bate acelerado
São mil veias bombeando um rio vermelho!
Sou demónio conformado.
Se não estou morto,
Se o coração não se mostra velho,
Então serei fome de realizar o que está errado.

A bailarina insegura mas teimosa,
Faz trapézio na corda bamba dos seus receios.
São espinhos que embelezam cada rosa…
Os medos de uma bailarina corajosa,
Ao atravessar a corda receosa
De cair no chão gelado dos seus anseios…

O arrependimento sufocará o meu futuro,
Se o que não fiz, foi por medo de falhar…
O meu génio mostra-se tolerante ao escuro.
Se é meu desejo…Não me censuro!
Há tanta gente nesta esfera
Que morre seco de tanta espera,
Adiando até o formigueiro de querer tentar…

Renato Machado

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Margarida

O silêncio mora no abismo do teu olhar,
Quando te recusas a falar de tudo aquilo que sentes.
Alma de pássaro vasculhando sítios onde pousar,
É batalha que teima por não findar,
Para poder viver sem receios
As alegrias que proteges com todos os dentes…

As mãos pousadas no descanso do corpo sereno,
São como jóias perdidas no tempo das memórias…
Fadigas sem morada nem terreno,
Partes ignoradas no choro mais pequeno,
Quando forças a tranca
Para esconder todas aquelas histórias…

Não te escondas num pedestal de superioridade…
Da segurança que adquiriste pela secura.
Seres sensível mostra aos outros,
Um pouco de dignidade!
Demonstra um carácter desnudo de vaidade,
Na busca infindável pela tua auto-procura…

Serás sempre para mim, uma divina dúvida.
A mente mais complexa e repleta de medos,
Recolhidos em palavras e segredos,
São mistérios de uma flor já crescida!
Pétalas levadas p’lo vento,
De uma simples margarida…

Renato Machado

Talvez sim... talvez não

Não me apetece escrever…
Não o vou dizer…
Remeto-me ao silêncio que me escolhe.
Mas sei que estou à vontade
Para relatar a minha saudade,
De quem me expulsa do seu olhar,
E nele me acolhe…

Não valerá a pena olhar para trás,
Se tudo aquilo que escolhi
Já nada de novo me traz.
Não me repugna, nem me satisfaz…
As manhas mais engenhosas que teci,
Não são suficientes para querer regressar a ti.

Talvez seja o melhor que tenho para fazer…
Um novo brinquedo
Oferece-me sempre um novo enredo,
Já que me dizem ser o ideal para te esquecer…

Problema quase resolvido!
Falta apenas selar e despachar a encomenda…
Irá para quem não se importe com o amassado,
Com o debutado…o farrapo descosido…
Não quero nada daquilo que representas.
Bem podes te esforças que já não me atormentas!

Renato Machado

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Santa Luzia

Nas mentes mais lúcidas desta gente,
Contam-se contos de quem nasceu da areia fria.
A alma de um povo que sente
As raízes sólidas que aqui o prende.
Aceitam com alegria esta corrente…
É sede de orgulho que se sacia!

O povo é aquele que aqui mais cintila.
Existe tempero de sal em cada casa.
Tapou com pedras a argila,
Para sepultar aqui a sua origem…
Tem esquemas de puto reguila!
Peixe sonhador que procura asa,
Inconsciente do que é sofrer com a vertigem.

Há quem deseje experimentar o mundo lá fora.
Mas acomode-se ao “deixa andar”…
A oportunidade ri-nos uma vez
E vai embora…
Comboio que parte na hora
Do remorso por não saltar…

Renato Machado

Emanuela

Sentia que estava feliz,
Talvez porque era pequeno a teu lado…
Esticava o corpo para te ver,
O exemplo que tinha a aprender,
Seria dado no teu ensinamento atrapalhado…
E eu chegava de olhos abertos!
Afim de capturar cada imagem da tua atitude.
Os passos sempre certos,
Demagogia precoce aos anos espertos,
Levaram os laços a tanta longitude…

Porque crescemos juntos,
Somos frutos nascidos da mesma árvore de Adão…
Existem semelhanças e diferenças
Que nos unem e separam nas crenças,
Numa amizade que nasceu
Plantada no beco onde cresceu.
Entre risos vindos do coração…

Se hoje sou o que sou,
Sei que parte de mim és tu!
Mãos de irmã que me moldou,
Nas histórias infantis que me contou.
Amiga que me escutou.
Sei que, parte de mim é…e serás sempre tu.

Renato Machado

Poema dos Mares

Calem-se as vozes de tormento!
Deixem-me ouvir cantar o mar…
Nos braços robustos deste vento,
Vem cantar-me em tom sonolento,
A confusão de ondas que morrem para me chamar…
“Dança comigo!”
Gritam pequenas almas aprisionadas,
Puxam-me nas suas lendas encantadas,
Confundindo a aura de um pobre índigo…
Desmoronam-se contigo,
Nas redes rotas de mil armadas…

Eu, o mar…areia e sal…
Lendas distraídas por entre as gaivotas,
Nomes esquecidos nas derrotas,
São palavras sem descanso depois de mortas!
Ancoradas no sagrado areal…

Já vai subindo o sol no horizonte.
E as palavras naufragadas… brilham no fundo…
Entre os cardumes repletos de energia!
Meus sonhos são guardados no mar mais profundo,
Guardião de sonhos por todo o mundo.
Ave-maria…

Renato Machado

Contrafortes

Perplexos estão meus músculos,
Ao ver toda uma vida destruída…
Nem chorar p’lo que antes era meu consigo…
Percebo agora que não tenho saída,
Que faço?
Vou comprar um bilhete só de ida,
Deixar aqui estes repugnantes vínculos.

São mais de mil caras,
Rostos que gozam de tudo aquilo que construí…
Escárnio insultuoso sem respeito,
Dos que almejam cada passo,
Como pequenas pedras raras!
Já que arriscar parece ser um direito,
Dos juízes inquisidores do meu defeito…
Enxugo as lágrimas que me ensopam o regaço…

Esquece isso…
Estar de costas voltadas apenas te afunda,
Não queiras fugir de todas as pelejas,
Pois ninguém as travará por ti…
São só medos!
Abre os olhos para que vejas,
As pequenas grandes coisas que já fizeste…
Por ti…

Renato Machado

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cores Aurias

Tenho uma paleta de cores
No interior do meu ser…
Há que pintar cada ocasião!
Tenho um tom de negro, quando a vida assim o quer…
Tenho um branco quando há vida a nascer…
Pinto sombras encarnadas quando falo com o coração.

É um quadro ilustrando a minha sina,
Com cinzento baço improvisado…
Em pinceladas grossas de resina,
São imagens cegas na tua retina,
São palavras mudas aninhadas no meu beirado…

Um toque de azul-turquesa
Pincelando os rabiscos mais tristonhos.
Captam cenas de tristeza,
De angustia sem certeza
Personagem de cena sem sonhos…

São cores que vejo no meu mundo!
Cores alheias á sala expectante do meu bem estar…
Cores pintadas no meu fundo,
Sem descrição do seu oriundo,
Tintas que correm no vaso mais profundo
No brilho incessante do meu olhar…

Renato Machado