domingo, 15 de janeiro de 2012

Pássaro de Ferro

Tanto que ficou por dizer
Tanto que ficou para trás...
O tempo voa, e nós?
Ficámos cá em baixo
A vê-los passar...
Também nós tínhamos sonhos
(eu tinha sonhos)
A quando a memória não nos faltava...
Foram tantos os sonhos que te dei
As manhãs de inverno a teu lado
Sozinhos no meio de tanta gente
As ruas outrora foram nossas!
Ah como o tempo voa...
E nós?!
Nós ficámos aqui, sentados
Na fila de espera para o embarque
Rumo ao futuro.
Já viste que só cá estamos nós?
O tempo contigo voa...
O tempo contigo voava,
Tais sonhos de um passado sem promessa
De destino...
E nós?!...


Renato Machado

Dia Cinzento

Secámos...
Os pensamentos já não fluem
As palavras morreram no tempo
E nós? O tempo tudo levou.
Fomos feitos um para o outro
Na condição de nunca nos amarmos
Querendo sempre do outro amor...
Faltou-nos tanto!
E o que tínhamos nunca foi pouco
Para tapar as ausências de laços,
Para tapar o que não queríamos sentir...
Mas fomos tanto!
Tanto no vazio...
Tanto no silêncio...
Tanto no frio
Que mutuamente nos presenteámos.
Demos tudo o que havia para dar
E, por incrível, nenhum quis do outro receber.
Já falámos tantas vezes do tempo
Que nem esse tempo sabemos ao certo contar...
Sei que a culpa essa, é dividida em partes iguais
Mas desculpa se não sinto peso qualquer em mim.
Ficaremos bem
Se a nós mesmos conseguirmos resistir.
Seremos dois, um plural
Sem possibilidade de um novo singular
Seremos aquilo que queremos ser,
Mais um na vida do outro...
Mais outro na vida de um...
Mais de uma vida a dois vivida
Aquela vida à qual os dois nos atrasámos.

Renato Machado

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

RAZOÁVEL

Guardava para mim
Todas as alegrias que vivi
Por te conhecer e poder ver-te sorrir.
Tempos distantes
Onde a vida girava em volta do teu "eu",
Onde a minha esfera era a tua,
Em que eu era a esfera
E tu, eras tu...
Mas eu nunca te quis mudar,
Não, porque eu era feliz assim
Com o reflexo da tua felicidade...
A vida é isto
Quer-se da vida isto,
A felicidade!
Não me julgues mal
Nem tão pouco me julgues louco,
Sou apenas aquele que vive para ti
Sem querer esmolas,
Apenas a esmola do teu sorriso
Isso sim, é o meu paraíso.
Outrora sofri por estar a teu lado
E ser único, sentir-me um singular.
Outrora carreguei em mim a falha
Suportei a tua ignorância
Como se a minha culpa fosse a tua...
Tempos tão distantes...
Pensava que seria sempre triste por dar
Na tristeza de nunca receber...
Que foi feito de mim?
Noutros tempos vivi na sombra da tua sombra
Na escuridão da tua ignorância
Que tempo já tão distante!
E hoje?
Hoje estou bem, por te saber amar com a razão,
Estou bem por estar a teu lado
Sem te querer aparar os golpes...
Crescemos?
Eu cresci...
Tempos distantes.

Renato Machado

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O TEMPO PASSA

Julguei-te resolvido... sim...
Um problema arrumado lá no fundo do meu gavetão.
Mas não...
A tua postura
O teu cheiro,
A tua textura...
Resolvidos estão os meus medos
Mas nãos as minhas verdades.
 Outrora tinha tantos sonhos por realizar,
Agora o que tenho?
Nada, a crença é uma chama que não arde
P'lo menos aqui no meu centro...
Talvez arda no que me é alheio
Tudo porque continuas a existir!
Morre! Morre! Mas morre aos poucos
Para que eu vá morrendo a teu lado...
Que estúpido que sou!
Mas faria tudo de novo...
Sei que faria tudo de novo...
Por ti, faria tudo de novo...

RENATO MACHADO