segunda-feira, 22 de março de 2010

Velha Canção

Não posso oferecer o que não tenho,
Mas posso querer o que não é meu…
Porque a liberdade de alcançar o alheio
É-me tão certo como o mundo ser um copo meio cheio,
Onde o que não se afogou, morreu.
Onde a mão que lanço, vem cheia quando a mim venho…
Misterioso é querer o que me pertence!
Como um golpe baixo que a mim me vence…
Certeza de querer o mundo dos outros…sim.
Porque o que tinha de eufórico, esvaiu-se…
Foi-se, sumiu-se…
Até julgar não ser tão mau o fim.

E no resto que sou, sou Abril,
Sou a primavera que vai raiando sol no que há em mim.
Mas até as andorinhas não são eternas…
As alegrias são fugidias quando se vêm com pernas,
Vão alucinadas, beber copos nas velhas tabernas,
Vão derramar vinho no imaculado cetim…
Vão ser aquilo que julguei guardar para o fim…
Porque até em mim, o lembrado torna-se senil.

Já não quero o que não me pertence
Vou esperar simplesmente que o calor do verão
Me lave as dores com panos frios,
E me ensope os pensamentos no turco da sua compreensão.
Porque aquilo que não me vence,
Unifica os meus arrepios,
Como se me cantassem uma velha canção.

Renato Machado

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