sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Amor... Não o quero...

O amor é defeito mais humano
Que a mais soberana imperfeição.
É olho gordo dos esfomeados,
É carência dos pensamentos indignados.
É sentimento quase mundano
Que chega a ser desumano,
Quando se confunde nos labirintos da razão.
O amor consome cada sopro da essência,
Apodera-se de cada partícula de genuidade e pureza
É sentimento que nos mantém na incerteza,
Diverte-se quando nos gira, feito pião,
Quando nos arranca o coração...
Amor não serve para quem quer Existência,
No amor não existe rasto de beleza
Se conseguirmos olhar para lá da ilusão.
Amor é imagem escondendo a frieza
É desamparo no meio da multidão...

Porque o amor não me escolhe então,
Não me acolhe... não me dá a mão...


Renato Machado

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ser Daniel

Não queiras fazer de mim o teu Daniel…
Ou outro caçador fictício de razões.
Os teus medos serão sempre teus
E ninguém se interessa pelos meus
Actuam como Dário, no seu gesto cruel
Lançando tudo e todos aos leões…

Não sei se cantarei,
Alarmando Deus para as minhas angústias…
Foi sempre uno o peso da minha dor…
Ordem indestrutível que acarretarei…
Se a vou questionar, jamais o saberei
Apenas não servirei
À descendência soberana de Nabucodonosor



Renato Machado

Bacanal

Murmuravam burburinhos de luxúria…
E os olhos brilhavam mais fundo que o mar matinal.
Havia no ar um nauseante cheiro de penúria,
Abafado pelos incensos sem injúria,
E eu gargalhava doido feito animal…

Na hora de perguntar a Baco, o que seria tudo isto,
Uma voz chamou por mim.
Lá nos primórdios adormecidos da consciência,
Conduzindo-me a este mundo onde a minha vida é um misto,
De áspera lixa e suave cetim.
Já que o sonho é uma ilusão sem brisa de existência…

São assim os meus dias…
Deslocado dos terrenos por onde flutuo,
Entre pensamentos febris de tamanhas iguarias,
Sou humano, tenho curiosidade de orgias!
Os cheiros… os toques… os sons…
As melodias gemidas em diversos tons…
Musicas que me entulham de perversas heresias…

Renato Machado