quinta-feira, 29 de julho de 2010

Poema para uma despedida (ao meu pai)

O que sonhaste já lá vai,
Flutuando entre a espuma do esquecimento
Tal barco de papel que parte sem destino.
O que sonhaste já lá vai…
Vai seguindo a maré alheia ao esquecimento,
Como se pedisse guarida ao vento,
Como um pássaro voando no sol vespertino.

Vão sonhos, vão beijar a eternidade
Que quem aqui dorme, jamais lhe tocará.
Vão ser de outro alguém que lhes dê tamanha graça e valor,
Que tenha ainda energia, a força de ser calor…
Ai… vão sonhos, vão beijar a eternidade
Que quem aqui dorme, para todo o sempre dormirá.




Renato Machado

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O meu Baloiço

É um vai e vem,
Um baloiço de pensamentos e recordações
Como recuar ao início do passado
E lançar-me ao incerto futuro desconhecido, enublado…
E vai… e vem…
Um baloiço, uma balança,
Uma dança!
O deixar-me conduzir p’las mãos de outro alguém…
Balançando entre memórias,
Velhas brisas poeirentas em histórias
Confundidas no meio de ilusões…

Meu baloiço vai alto
Tocar o desejo de escapar ao futuro
“É desta vez, eu juro!”
E a gravidade do passado aconchega-me ao asfalto…
Meu baloiço ia alto…

Ia alto, à altura que me queria tocar,
E voltei, recuei…
Fui o sonho que não fui
Fui o sonho que sempre serei,
Meu baloiço volta ao chão e torna a voar.



Renato Machado

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nuts

Nem todos os que voam têm asas.
Nem todos os anjos possuem asas…
Por todos aqueles que delas não necessitam,
Para esses existem asas.

Mais valia se fosse a persistência a triunfar
Às asas comandadas por quem não conhece tamanho valor,
De quem só conhece a vontade de ser maior,
À vontade honesta de se primar.



Renato Machado

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Para a minha Maria Helena

Chiiiiiiiiu….
Dorme meu anjinho sagrado
Na paz de mil querubins,
Embalada nos braços de mil serafins.
Chiiiiiiiiu….
Dorme, sonha sempre com o céu estrelado.
Sou apenas um coração que se assola de sonhos por ti,
Que adormece feliz ao ver tamanha alegria.
Muita luz! Muita vida! Vai, sorri!
Meu anjinho de mel, estou aqui…
Chiiiiiiiiu….
Dorme, o amanhã será sempre um lindo dia.






Renato Machado

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cinco Estações (alter-ego)

Cinco mercês sem mira
E um sitio desejoso de se pousar.
Primeiro vai o “deixa andar” mais a sorte
Vai cedinho e cedinho traz a morte,
Traz especiarias perfumadas com cheiro a oriente
Para o presente, inconsequente, eloquente ocidente…
Pára de caminhar
Chiu… pára, olha, escuta, aprecia a sua ira.

Depois vai a carroça que ninguém toma rédea
E vem no regresso com bijutarias que nunca ninguém viu.
Vai Brasil… vem Abril…
Vai Abril… vem Brasil…
E a gente troca o passo com a linguagem
Porque sobra sempre espaço a cada viagem,
Porque existe tempo que já se esqueceu, ou nunca existiu.

Terceiro quer ser o primeiro
Ser imperador do mundo inteiro
Mas não quer ter fama nem sucesso.
Quer apenas fortuna e um regresso.
Junta-se-lhe o desejo e a passividade
E nasce o terceiro, não é carne nem é peixe
Nem é gente que se queixe,
Apenas se mantém sóbrio com a sua dignidade.

E quarto está onde lá mora,
Onde viveu ontem, vive hoje, aqui e agora…
Sem temer, oferece a alma que não tem
Por julgar que há quem precise do seu alguém.
Por ser sozinho, segue o caminho
Segue as pegadas que viu dar um dia.
O quarto quer apenas uma dose de alegria
Por estar farto do seu eu que chora.

Por último volta para trás de onde nunca quisera sair
E pede a deus que lhe faça esquecer todas as visões.
Fuma, bebe, e sorri.
Olha em frente sem saber o que vai pensar a seguir
E estende a mão a quem passa…




Renato Machado