quinta-feira, 26 de abril de 2012

Durmo...

Lá...
No passar silencioso das horas
Eu durmo...
Entre um tudo e o nada
Vou dormindo, vou ficando
Na calma que me embala...
Lá...
Fico quieto esperando alguém,
Alguém que não quer existir
E eu durmo...
Lá...
Na bruma que me envolve,
Na dor que me acolhe,
Na paz que quero ter,
Eu fico...
Durmo...
Lá...
No escuro dos meus olhos,
No vazio da minha voz,
Vou contando o tempo,
Os passos que dei,
Os passos que errei
E as almas que fiz sofrer
Como outras tantas que salvei...
E durmo...
Durmo para tentar esquecer
Que existo,
Que persisto
Insisto
Em ser alguém que não merece viver...
Fico mudo...
Soturno...
Eu durmo...
P'ra que o amanhã venha
E me traga o que quero,
A salvação p'ro meu sono...
E fico lá...
Durmo...


RENATO MACHADO

quarta-feira, 25 de abril de 2012

RECUSA

Não quero regalias
Não quero que me apapariquem
Com presentes e bajulações…
Não quero nada do que me queiram dar
Já que o que quero jamais terei.
Não preciso de carinhos
Não quero receber afetos,
Nem sorrir por agradecimento
A tudo aquilo que não desejo,
Já que o que quero jamais o terei…
Escusam de avançar
Armados até aos dentes
Com palavras mansas.
Eu não quero, não preciso, jamais quererei…
Porque não tenho aquilo que quero,
Se o que quero é tão pouco aos olhos dos outros?
É apenas um ser humano
Aquilo que tanto almejo!
Aquele ser humano, 

Não outo, aquele…
Somente aquele...




RENATO MACHADO

terça-feira, 24 de abril de 2012

Vinte e Quatro

Tentei falar dos meus sonhos ao mundo,
Acertar nas portas entreabertas
E gritar por socorro ao alheio.
Senti que o chão me fugia sob os pés
Quando o receio do precipício cavalgou até mim.

Bati de frente com a liberdade
Jamais querendo a sua companhia.
Tentei, eu juro que tentei esperar aqui!
Mas a teimosia é coisa não me cabe cá dentro...
Mas não... Tive de correr sozinho
P'ro outro lado da tua esfera,
E p'ra quê?
Só p'ra ficar mais uma vez na solidão...

Nenhuma porta se me abriu
Nenhum sorriso se me esboçou....
Não, nem "parabéns" por continuar vivo,
Não... p'ra quê?
Deixo-me estar como me encontrei,
Imóvel, sem medo, sem vida,
Sem mundo p'ra me tentar abrir.
(os sonhos afinal têm cores,
neutras, sim, mas de paleta viva!)

Subi mais um andar...
Ninguém... desci p'ra me encontrar,
Mas o mundo não estava lá p'ra me ver
Muito menos p'ra me aplaudir...
Porquê?
"parabéns para mim"... não valerá a pena,
Já não quero este palco, terminou a minha cena.
O pano caiu e o público nem clamou por bis...
Não me quero por ser tão completo
Como um relógio
Completando o meu dia...
Mais outro dia virá,
Outro e mais outro...
Aqui? Porque não?
Talvez sim...


RENATO MACHADO

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Saberás só no fim

Saberás só no fim
Quando o mármore nos separar,
Que foste tu, sempre tu,
A certeza que morou em mim
Quando nem sequer te quis amar...

Saberás que fui apenas teu
A cada dia da minha vida,
Que foi por ti, sempre por ti,
Que o meu corpo não cedeu
Nem a alma se deu por vencida...

Saberás o tempo que esperei
Mirando e ajudando a tua felicidade...
Que fui eu, sempre mas sempre eu,
Que nunca te deixei
Nem na hora de voltar à realidade...

Saberás só no final
Como eu, ninguém te amou...
O que foi viver, lutar e sofrer,
Medo após medo, e o receio de te perder,
Num futuro que hoje sou...


Saberás só no final
Que da memória
A minha razão ainda não se desapegou...
E que a nossa história
Não termina aqui
Pois só agora começou...


RENATO MACHADO

domingo, 15 de abril de 2012

Apontamento

Salva-me deste silêncio dançarino
Teimoso,
Entre palavras que acabo por sorrir.
Arrasta-me contigo até ao fim,
Não largues o meu corpo na hora de subir.
Quero que cuides de mim,
Cuidando no escuro eu de ti...
Tal como uma redoma de vidro
Fina, delicada,
Preciso da tua segurança
Quando tento ser eu o teu anjo da guarda.


RENATO MACHADO



quinta-feira, 5 de abril de 2012

Resumo

Na mesa ficaram as culpas perdidas
As palavras mudas entre cada olhar...
Ficaram as velas gastas, por nós ardidas
Naquilo que foi nosso e que já não tem lugar...

Queres dar-me mundo que eu não posso aceitar
Sonhos felizes que eu não posso acolher,
Almas perdidas que eu não posso resolver,
Nem histórias que se abandonam numa sala de estar...
Tanto para me dar e tanto por onde fugir...
A cada dia, mais um passo errado
Um sim por te ser dito
Um não querendo ser derrotado,
Quando já nem sei o que por ti sentir...




Renato Machado


segunda-feira, 2 de abril de 2012

Caminhos


Ninguém sabe o que eu sei
Talvez nunca hão-de o saber,
Que um dia fui rei
De um reino distante por nascer.
Ninguém já viu o que eu vi
Ou escutaram a mesma canção.
Estive tantas vezes lá, e daqui nunca sai,
Pois não encontro outra razão.

Por tantas vezes querer ser outro alguém
Alguém que não seja eu,
Sou tantas vezes um vai e vem
A imaginação que ninguém detém
Fazendo das minhas historias um troféu.
Ninguém sabe de onde vim
Nem eu sei porque não evitei
Foram tantos os acasos a que prescindi
Que já nem me recordo onde errei.

Ninguém sabe onde parei de me olhar
Quando foi a ultima vez que falei comigo.
Estive onde nunca quis estar
Para lá das fronteiras da vontade em continuar
Julgando ali encontrar o meu abrigo.
Ninguém  sabe o que eu já fui capaz
De fazer por quem já amei.
Tanto mal, sem querer voltar atrás
Apenas sabendo que o cumpri,
Que nunca falhei.

Ninguém sabe... nunca vão saber...



Renato Machado