segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ao Jardim de São Francisco

De que valem as pedras que piso?
De que valem as pedras que me sustentam?
Ai… valem…
Valem o peso com que me sepultam,
Os anos largos guardando o riso
Valem os rabiscos que simbolizam o paraíso…´
Ai… valem…
Valem o choro sobre elas derramado,
Valem o silêncio do passo errado…
Pedras que são, amanhã meu corpo o será,
Corpo que se ergueu do chão, ao chão regressará.



Renato Machado

sábado, 23 de janeiro de 2010

Masoquismo

Como viver aprisionado na luz,
Um ser que não voa, que não plana
Mas uma alma brava que recusa pousar…
E vai tacteando todas as partículas no ar,
Escutando as vozes na mente que lhe engana…
Vivendo cada segundo da solidão da Luz.
E o vento turbulento que sopra estagnado,
Vem ferozmente abraçar o vazio…
Paz… clareia o imaculado da confusão,
Paz… ordena por ordem a ilusão…
E o que se apura sem prumo nem brio,
Vem como um calor ardente de calafrio,
Aninhar-se no escuro que ficou passado.

É como voltar a viver cada momento
E não poder dizer que já antes o tinhas vivido…
Apoiando-se naquilo que não se tem e se quer ter,
Quando a voz que lá ao fundo grita, não chama pelo seu nome…
Mais nada… só o vento!
A jangada de sentimentos vai-se destruindo,
Peça a peça, lá se vai tudo o que lhe fez viver…
Nessa luz que lhe exausta, seca os limites, tira-lhe a fome…

Jura-lhe que o tempo passou,
Conforta-lhe no escuro, chora, se isso o acalmar…
Mas segue… o passado, lá atrás ficou,
O frio, a luz… tudo isso se evaporou!
A noite por fim, chegou…
É hora daquele ser voltar a sonhar…

Renato Machado

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sala de Espera

Alegria… amor… ilusão…
Um misto de significados,
Que nem misto parece ter.
E sou eu que estou aqui… na confusão,
No arrastar de cena sem razão,
Num prolongamento doloroso de pecados
Pois, nem já à sabedoria vou beber…

Estou só cansado.
Faminto de sossego, de silêncio, de paz!
Quero o alívio de cerrar os olhos, quero breu!
Quero…
Tem dias que desespero,
Mas espero…
Porque sei que até o mal tem outro lado.
Ai…A vida sabe sempre o me traz,
E por mais que o seja capaz,
Deixo-me levar p’lo significado que Ele o deu…

Cessem as buscas ao sentido,
Pousem as candeias, pousem a vontade…
Eu desisto!
Há-de vir quando chegar a hora
Quem me dera que o fosse agora!
Depois de tudo que já foi vivido,
Quem me dera até sentir saudade…
Mas para mim, ainda é um misto…

Há-de vir quando chegar a hora…
E eu lhe darei o meu significado.

Renato Machado

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Rabiscos...

Não há vento, apenas tu.
Não há silêncio, apenas tu…
Não há fome, não há sede
Não há guerra, não quero a paz…
Não quero nada…
Apenas tu!
E apenas tu para me trazer guerrilhas,
Só tu para me empunhar de estandarte rumo à linha da frente…
Apenas tu…
Tu… tu que me montas e salvas das armadilhas
Tu que te divertes na minha mente…
Apenas tu…
Mas quem és tu?
Quem és tu, que não consigo enxergar?
Quem és tu que me fazes sofrer?
O vazio… a solidão… eu sofro… quem és tu?!
Não me ensines a amar
Para mais tarde ter que te esquecer…
Quero-te em mim apenas no sonho
Não quero um toque, um som… não te quero!
Quero que sejas apenas tu.
O meu acordar de vida risonho,
O oculto, aquele que sei que ali está, mas nunca espero…
Quero que sejas apenas tu…




Renato Machado

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um Dia Serei um Poema

Um poema não se faz com juízos de valor,
Nem se escreve a verdade se, for metricamente gesticulada.
Não. Um poema não é isso!
O poema tem que mostrar amor.
Amor p’lo que fala…em raiva… mas há que ter amor!
Isso sim é poema… e mais nada.
O poema é arte mágica que dispensa feitiço.
O poema não é dom de palavra,
Mas a palavra que se humaniza e quer viver.
Isso sim! Poema é imagem na imaginação.
Poema é dom de falar com a voz do coração.

E se eu pudesse ser um poema, sei que o seria!
Viveria a intensidade de cada expressão,
O secretismo de cada figura de estilo…
Encontraria em cada palavra a minha alma… encontraria.
Ser poema, ser poeta, ser alegria!
Porque a poesia é apenas isso, uma estranha sensação
E por minha vontade,
Que se dane a liberdade!
Pois eu, no meu poema me exilo…

Encontrarei como Ary, a felicidade na minha escrita,
Nos meus versos, no meu amor p’lo mundo… ou por nada.
Mas encontrarei! Tirarei da vida, a lição mais bonita,
Aprenderei que não só de pó se faz a estrada.
No teu poema… no meu poema…
No amor pelo homem… no amor pela palavra…
Um dia serei um poema!



Renato Machado

domingo, 10 de janeiro de 2010

Tenho Saudades

Tenho saudades…
Tenho saudades daquilo que não tenho,
Dos momentos que não vivi…
Saudades de lugares de onde nunca venho,
Saudades de imagens irreais que desenho,
Saudades de tudo o que nunca vi…

Tenho saudades de sentir saudade,
E sentir que a saudade de mim se alheou,
De mim se cansou…
Ah…tenho saudade…
Apenas de mim, não há saudade…
De mim cansei, porque de mim nada sobrou…

E tenho saudades de ser eu…
De ser ideia ao acordar, e poeta ao adormecer.
Ser luz rompendo o escuro,
Saudades de ser eu…
De ser talento que vive para crescer!
Ser bola atrevida que repica, e salta o muro…
Saudades da magia que sentia ao escrever…

Tenho saudades de tudo, menos do bem que fiz,
Para quê sentir falta daquilo que nem sempre quis?
Mas tenho saudades… e as saudades fazem-me feliz…

Renato Machado

sábado, 9 de janeiro de 2010

Apenas...

Apenas sou um ser
Um ser que tudo quis ser…
E ser alguém que não se deve ser.
Apenas uma certeza,
A certeza que o que está certo, nem certeza tem.
Com certeza…
Apenas na minha incerteza, vive este meu alguém….

Vivendo na luz do desejo,
E desejar não estar lá, para não o viver.
Ao viver erradamente na ofuscante luz do desejo,
É meu desejo!
Apenas o esquecimento do meu saber.

Não quero amar o amado,
Nem venerar o já gasto venerado,
Apenas um ser…
Um ser que impacientemente, espera crescer.
Um ser de luz iluminado ao sol do anoitecer…
Apenas um ser… que quer apenas ser.

Tristemente, lá se vai o que se sente,
Fica apenas réstias de quem sente.
Um rasto quase apagado de sentidos e sentimentos,
E sente que o que antes sentira, hoje nada sente…
Hoje nada nem ninguém o sente…
Sobra-lhe as histórias que conta aos sete ventos.



Renato Machado

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

São Silvestre

Ilumina-te escuro!
Faz-te luz em mil auroras!
Boreais… celestiais,
Brancas, roxas, cardeais.
É a piro das horas especiais,
Ao morrer o velho, o maduro
E o novo vem fresco sem mais demoras.
Escorre ouro branco pela garganta,
Borbulha o cavalgante desejar!
Orgulhosa é a esperança que se levanta,
Ao som da euforia que se encanta,
Se renova, revolta em discernimento,
Na ambição, o supremo sustento…
O ciclo finda e torna a começar.

É como se florescesse a ressurreição,
Oferecendo uma nova e única oportunidade
Em Silvestres louros de se conseguir realizar.
Num segundo… pede-se o mundo sem razão.
Pede-se a felicidade sem condição,
Pede-se tanto, e tão pouco, desprezando a verdade…
Tudo o que a mente possa imaginar!
Tudo aquilo em que o desejo avança sem se julgar!
Sem se denominar alucinação,
Apenas a distorção da realidade.
Que o que há de vir seja somente viver,
Somente a sorte de acordar.
Projectos… sonhos… ambição…
Somente o sangue bombeado p’lo coração,
Dando ao corpo por onde se erguer,
Confiante no “second-round” a conquistar.


Renato Machado