quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Génesis

Nem sempre a verdade enfrenta a mentira
Ao que se vê, a farsa é uma crença
Deus parece fruto do desespero…
E a verdade que antes lhe sorrira,
Não tem verdade… resta-lhe a mentira!
E ele não lhe presta presença
Nesta última sentença…
Até mesmo eu, confundo-me com aquilo que quero.

Fecham-se os olhos ao que está certo,
Ao mundo marcado pelo encoberto…
E as almas enganam-se no álcool da ilusão…
Um sabor estranho aninha-se por entre o paladar,
E a gente já nem sabe no que se deve acreditar!
Porque o que hoje nos é desperto,
Conduz-nos ao caminho, de destino incerto,
Sem morada, nem missão…

A verdade não quer discórdia,
Apenas procura a integridade na sua intenção.
Ás vezes dói…
Corrói…
Carece de divina misericórdia…
Aparenta não ter coração…
Mas a mentira não se curva à verdade…
Finge munir-se de dignidade,
Sorri como boa samaritana.
Teima avante a sua vontade…
Assim se fez a raça humana.

Renato Machado

Peixes...

Deliberam promessas,
Deliberam rumores,
E a verdade, parece estar esquecida
Entres as teorias às avessas.
Ideias e dogmas são levadas em remessas,
Ao paganismo de sábios doutores,
Que nem na sua fé encontram vida.

Deliberam história,
Deliberam tudo aquilo que é incerteza.
Contra a realidade rema este mundo!
E esta gente que lhes falta a memória…
Apenas lhes interessa o palco da glória!
Sábias mentes sem esperteza,
Míseras falhas, de um vagabundo…

Justificam perdões,
Justificam o que parece estar errado.
Mas o que não passou, não se detém,
Já que o que é vero, sempre vem
E, deparamo-nos com corações
No já perdido do achado.

E no fim sobram os insensíveis,
Aqueles que não possuem o dom de sentir…
Por não distinguirem o claro do escuro…
Sorte desses invisíveis!
Sem peso da farsa no seu agir,
Liberto da culpa que os possa ferir.
Felizes daqueles que, o frio é porto seguro.

Renato Machado

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Sólido

Nem ele rompe a música que vive em mim
Ou o silêncio que me embebeda…
Porque simplesmente não tenho medo,
E não faço disso um segredo,
Como para muitos, é trama que lhes enreda
No cortante delicado do seu cetim.

A mim, nem Deus me ordena
Ou me julga culpado, sem minha consciência…
Não! Também tenho Teo em minha posse!
Sou senhor fazedor de tudo o que quero, como se o fosse
Criador da minha própria eloquência!
Farei eu o meu castigo, saberei a minha pena!

Se o fogo me quiser queimar
Pois que saiba realmente àquilo que vem…
Nem medos, nem anseios
Nesta corrida, tenho em minha mão os arreios,
O meu Neptuno é digno de se dignar
Ele em mim, numa vida plana para enfrentar,
Pois não julgue ninguém…

Até o mais fino grão no seu singular
É capaz na solidão, a vitória do seu desejar.



Renato Machado

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Poema do Fim

Os sonhos alimentam-se de esperança
E os esperançados são filhos do Senhor.

Senhor…
Quando a esperança se esgota
E todo o nosso sentido esmorece,
Que sonhos devemos premiar?
Afundamo-nos na derrota?
Descalça-mos tal bota?
Mas a alma também de sonhos carece…
Senhor…
Preciso de ilusões para continuar!

E se a humanidade não fosse humana
Simplesmente por não saber sonhar?
Então eu seria normal
Um corpo e alma, de viver banal…
Que desejo o meu… uma mente sana!
Apenas um humano estacionado no seu lugar.

Sem esperança, meus sonhos vão se afundando.
E contraem-me os tendões que me fazem andar
Nesta roda-viva,
Secando até minha saliva…
Então, pouco a pouco, cambaleando
Padecerei sobre as recordações que comigo,
Hão-de se sepultar….



Renato Machado

Vinte e Um

Vem de vinte e um e vai crescendo,
Petulante, talvez pela indecisão,
Mas não mostra parte fraca, nem fraqueza
Porque não há resposta certa, nem certeza,
E vou morrendo…
Rezando aos poucos para que se vá renascendo,
No lusco-fusco da imaginação.
E vou me revendo em cálculos sem sentido,
Entre os anos que me vão dando os dias…
Nada mais me importa!
Se passar da cepa torta,
Basta a ideia de o ter vivido…
Por me desenhares vendado,
Fui com um fado mal traçado,
Pois sei que nem tu, assim me querias.

E o jogo de números que carrego,
São poucos aos olhos de quem já os tem.
Mas o desespero não me assola,
Porque a idade essa, é óbolo que Deus me dá de esmola.
Sem precisar ou querer sequer sossego…
Apenas a razão de quem quer ser genuíno no seu “alguém”.

Mas a vida mora entre o antes e o depois.
Respeitando o passado tantas vezes errante
E, prevendo um futuro, se o for avante...
Quando se almeja apenas o vinte e dois.


Renato Machado

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

De Difícil Compreensão

Não me dês culpas nem desculpas,
Não me dês o peso dos teus sonhos,
Pois não os sustentarei…
Dá-me dias cinzentos risonhos!
Dias solarengos e enfadonhos!
Deixa-me apenas ver-me em ti, tudo aquilo que serei…

Partilha comigo, mas não as dívidas.
Mostra a verdade quando me dás mentiras,
Solta os teus gritos quando te calas…
Já eu…não sei se os ouvirei.
Terei certezas enquanto duvídas
Das minhas decisões onde te retiras,
Por julgares que eu nunca o farei…

Mas porque não me disseste a verdade?
Porque me deixaste ir em frente,
Quando querias voltar para trás?
Não acredito quando dizem ser maldade,
Já que o teu beijo se entrega pleno de virgindade,
Tal aprendiz adolescente…
Que sacia a aguçada curiosidade,
De ser expressão de amor e paz.



Renato Machado

Declaração de Amor

Pensando….mas não julgando…
Um sonho…uma vontade!
Um dia imaginado, feito crescido,
Realidade!
Um rosto erguido, um toque de simplicidade.
E o tempo …vai de mansinho passando.

Imagino a minúcia do prazer,
Um momento, um beijo roubado…
No virar da página… o frio subindo pela espinha,
Nunca antes imaginado!
Um olhar que alinha, o chamamento desejado…
E que alegria que é podê-lo dizer…

Pondo tudo no devido lugar,
Tenho espaço que sobra para te receber.
Sim… tu e eu.
Vamos renascer... mas nunca morreu!
Nem sequer sei o que nos aconteceu
Apenas te sei conjugar no verbo amar.

Renato Machado

Os Três Homens

Primeiro vem o mistério.
Os olhos serrados embebidos de escuridão…
Aparece vindo do nada um império,
O homem de rosto recto e sério,
A torre que me guia pelos caminhos da orientação.

Depois vem o amor.
A sensação de estar completamente desamparado…
Vem de longe a agonia, mais a dor,
Um homem mergulhado no seu sabor,
O doce amargo de amar o errado.

A culpa virá sem hora prevista,
Nos galopes dos sentimentos arrependidos.
Outro homem seguirá na lista,
É remorso de não realizar e ser realista,
Ter os pés pregados ao chão… tomar parte dos sentidos…

São apenas homens no meu agora.
E eu sou um peão que vacila no atrito,
Sou carência acentuada no passar da hora,
Um corpo sem alma… não se chora!
Impotente até de soltar um grito…


Renato Machado

Sexto Sentido

Qualquer que seja o meu sabor
É apenas meu!
Doce, amargo… sempre pessoal.
Um toque quanto sei, nada banal,
Um gosto a calor,
Mas não tem nada de amor…
No teu paladar, serei apenas eu,
Porque não quero ser outro alguém
Que cruza a tua memória e se esfuma…
Porém, não há nada para te dar
Nem um sentimento ou um lugar
Apenas o paladar…
Não será aquele que me convém,
Tudo bem…
Pois onde a minha alma ruma
Nem o meu gosto te vai cativar…

Então cheira-me!
Toca-me, olha-me!
Ouve-me e, mesmo que eu não to faça,
Já que Deus não me deu tal graça…
Ama-me…




Renato Machado

Malhas de Mim

Em desalinho
Vou segurando pontas distraídas,
Tal peça solta.
Como se um único ponto cosesse a alma,
Como pontos largos sem caminho...
E desenho avenidas!
Vou-me imaginando nas suas subidas!
Sem possuir esquadria ou calma,
Sempre sozinho...
Porque a minha agulha,
É tal fagulha sem trona volta.

E de uma só vez,
Todas as malhas que me incorporam,
São remendadas pela minha mestria.
Talvez o "ponto sonho" que se mostra frouxo no seu revés,
É perfeito aos olhos do mundo, e pode ir de lés a lés...
Bordado que sou, foi Deus que o fez!
Se um ponto falhou...
Emende-o quem me emendou!
Mas as minhas malhas não choram,
Nem a perfeição elas adoram...
Tão pouco a alma mostra histeria...

Renato Machado

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Amor... Não o quero...

O amor é defeito mais humano
Que a mais soberana imperfeição.
É olho gordo dos esfomeados,
É carência dos pensamentos indignados.
É sentimento quase mundano
Que chega a ser desumano,
Quando se confunde nos labirintos da razão.
O amor consome cada sopro da essência,
Apodera-se de cada partícula de genuidade e pureza
É sentimento que nos mantém na incerteza,
Diverte-se quando nos gira, feito pião,
Quando nos arranca o coração...
Amor não serve para quem quer Existência,
No amor não existe rasto de beleza
Se conseguirmos olhar para lá da ilusão.
Amor é imagem escondendo a frieza
É desamparo no meio da multidão...

Porque o amor não me escolhe então,
Não me acolhe... não me dá a mão...


Renato Machado

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Ser Daniel

Não queiras fazer de mim o teu Daniel…
Ou outro caçador fictício de razões.
Os teus medos serão sempre teus
E ninguém se interessa pelos meus
Actuam como Dário, no seu gesto cruel
Lançando tudo e todos aos leões…

Não sei se cantarei,
Alarmando Deus para as minhas angústias…
Foi sempre uno o peso da minha dor…
Ordem indestrutível que acarretarei…
Se a vou questionar, jamais o saberei
Apenas não servirei
À descendência soberana de Nabucodonosor



Renato Machado

Bacanal

Murmuravam burburinhos de luxúria…
E os olhos brilhavam mais fundo que o mar matinal.
Havia no ar um nauseante cheiro de penúria,
Abafado pelos incensos sem injúria,
E eu gargalhava doido feito animal…

Na hora de perguntar a Baco, o que seria tudo isto,
Uma voz chamou por mim.
Lá nos primórdios adormecidos da consciência,
Conduzindo-me a este mundo onde a minha vida é um misto,
De áspera lixa e suave cetim.
Já que o sonho é uma ilusão sem brisa de existência…

São assim os meus dias…
Deslocado dos terrenos por onde flutuo,
Entre pensamentos febris de tamanhas iguarias,
Sou humano, tenho curiosidade de orgias!
Os cheiros… os toques… os sons…
As melodias gemidas em diversos tons…
Musicas que me entulham de perversas heresias…

Renato Machado

sábado, 17 de outubro de 2009

Barbie

A boneca estava sentada na prateleira,
Onde outrora se fartaram dela…
Por dela se terem cansado...
O pó remoinhava na sua cabeleira,
O vestido pregueado perdia a cor verdadeira,
O encanto nos seus lábios já não tinha significado.
Sem poder mostrar o que lhe vai lá dentro,
Nem sabe o alívio do que é chorar!
Assim custa sempre mais a sarar,
(a ferida de purpurinas no lixo jogado)
Por não poder mais permanecer no centro…

Os seus olhos sem vida não se conseguem fechar,
Triste boneca jogada ás traças do esquecimento.
Ali no alto, planeia dali se jogar,
Espatifar-se no chão e, por fim acabar…
Ser levada pelas ondas de quem lhe apanhar,
E lhe der o pouso do seu merecimento.

Então deixou de acreditar na esperança.
Descansou no seu lugar alojado entre pó e solidão…
A vida morava na prateleira ao lado,
E ela… espectadora no seu beirado,
Nem reparou na desconhecida criança,
Que lhe sacudiu com carinho as pregas do vestido,
Com cuidado, aninhou-a junto ao seu pequeno coração…

“Olá Barbie, sou a tua nova amiga”

Renato Machado

Minha Forma de Ver

Meu coração bate acelerado
São mil veias bombeando um rio vermelho!
Sou demónio conformado.
Se não estou morto,
Se o coração não se mostra velho,
Então serei fome de realizar o que está errado.

A bailarina insegura mas teimosa,
Faz trapézio na corda bamba dos seus receios.
São espinhos que embelezam cada rosa…
Os medos de uma bailarina corajosa,
Ao atravessar a corda receosa
De cair no chão gelado dos seus anseios…

O arrependimento sufocará o meu futuro,
Se o que não fiz, foi por medo de falhar…
O meu génio mostra-se tolerante ao escuro.
Se é meu desejo…Não me censuro!
Há tanta gente nesta esfera
Que morre seco de tanta espera,
Adiando até o formigueiro de querer tentar…

Renato Machado

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Margarida

O silêncio mora no abismo do teu olhar,
Quando te recusas a falar de tudo aquilo que sentes.
Alma de pássaro vasculhando sítios onde pousar,
É batalha que teima por não findar,
Para poder viver sem receios
As alegrias que proteges com todos os dentes…

As mãos pousadas no descanso do corpo sereno,
São como jóias perdidas no tempo das memórias…
Fadigas sem morada nem terreno,
Partes ignoradas no choro mais pequeno,
Quando forças a tranca
Para esconder todas aquelas histórias…

Não te escondas num pedestal de superioridade…
Da segurança que adquiriste pela secura.
Seres sensível mostra aos outros,
Um pouco de dignidade!
Demonstra um carácter desnudo de vaidade,
Na busca infindável pela tua auto-procura…

Serás sempre para mim, uma divina dúvida.
A mente mais complexa e repleta de medos,
Recolhidos em palavras e segredos,
São mistérios de uma flor já crescida!
Pétalas levadas p’lo vento,
De uma simples margarida…

Renato Machado

Talvez sim... talvez não

Não me apetece escrever…
Não o vou dizer…
Remeto-me ao silêncio que me escolhe.
Mas sei que estou à vontade
Para relatar a minha saudade,
De quem me expulsa do seu olhar,
E nele me acolhe…

Não valerá a pena olhar para trás,
Se tudo aquilo que escolhi
Já nada de novo me traz.
Não me repugna, nem me satisfaz…
As manhas mais engenhosas que teci,
Não são suficientes para querer regressar a ti.

Talvez seja o melhor que tenho para fazer…
Um novo brinquedo
Oferece-me sempre um novo enredo,
Já que me dizem ser o ideal para te esquecer…

Problema quase resolvido!
Falta apenas selar e despachar a encomenda…
Irá para quem não se importe com o amassado,
Com o debutado…o farrapo descosido…
Não quero nada daquilo que representas.
Bem podes te esforças que já não me atormentas!

Renato Machado

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Santa Luzia

Nas mentes mais lúcidas desta gente,
Contam-se contos de quem nasceu da areia fria.
A alma de um povo que sente
As raízes sólidas que aqui o prende.
Aceitam com alegria esta corrente…
É sede de orgulho que se sacia!

O povo é aquele que aqui mais cintila.
Existe tempero de sal em cada casa.
Tapou com pedras a argila,
Para sepultar aqui a sua origem…
Tem esquemas de puto reguila!
Peixe sonhador que procura asa,
Inconsciente do que é sofrer com a vertigem.

Há quem deseje experimentar o mundo lá fora.
Mas acomode-se ao “deixa andar”…
A oportunidade ri-nos uma vez
E vai embora…
Comboio que parte na hora
Do remorso por não saltar…

Renato Machado

Emanuela

Sentia que estava feliz,
Talvez porque era pequeno a teu lado…
Esticava o corpo para te ver,
O exemplo que tinha a aprender,
Seria dado no teu ensinamento atrapalhado…
E eu chegava de olhos abertos!
Afim de capturar cada imagem da tua atitude.
Os passos sempre certos,
Demagogia precoce aos anos espertos,
Levaram os laços a tanta longitude…

Porque crescemos juntos,
Somos frutos nascidos da mesma árvore de Adão…
Existem semelhanças e diferenças
Que nos unem e separam nas crenças,
Numa amizade que nasceu
Plantada no beco onde cresceu.
Entre risos vindos do coração…

Se hoje sou o que sou,
Sei que parte de mim és tu!
Mãos de irmã que me moldou,
Nas histórias infantis que me contou.
Amiga que me escutou.
Sei que, parte de mim é…e serás sempre tu.

Renato Machado

Poema dos Mares

Calem-se as vozes de tormento!
Deixem-me ouvir cantar o mar…
Nos braços robustos deste vento,
Vem cantar-me em tom sonolento,
A confusão de ondas que morrem para me chamar…
“Dança comigo!”
Gritam pequenas almas aprisionadas,
Puxam-me nas suas lendas encantadas,
Confundindo a aura de um pobre índigo…
Desmoronam-se contigo,
Nas redes rotas de mil armadas…

Eu, o mar…areia e sal…
Lendas distraídas por entre as gaivotas,
Nomes esquecidos nas derrotas,
São palavras sem descanso depois de mortas!
Ancoradas no sagrado areal…

Já vai subindo o sol no horizonte.
E as palavras naufragadas… brilham no fundo…
Entre os cardumes repletos de energia!
Meus sonhos são guardados no mar mais profundo,
Guardião de sonhos por todo o mundo.
Ave-maria…

Renato Machado

Contrafortes

Perplexos estão meus músculos,
Ao ver toda uma vida destruída…
Nem chorar p’lo que antes era meu consigo…
Percebo agora que não tenho saída,
Que faço?
Vou comprar um bilhete só de ida,
Deixar aqui estes repugnantes vínculos.

São mais de mil caras,
Rostos que gozam de tudo aquilo que construí…
Escárnio insultuoso sem respeito,
Dos que almejam cada passo,
Como pequenas pedras raras!
Já que arriscar parece ser um direito,
Dos juízes inquisidores do meu defeito…
Enxugo as lágrimas que me ensopam o regaço…

Esquece isso…
Estar de costas voltadas apenas te afunda,
Não queiras fugir de todas as pelejas,
Pois ninguém as travará por ti…
São só medos!
Abre os olhos para que vejas,
As pequenas grandes coisas que já fizeste…
Por ti…

Renato Machado

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Cores Aurias

Tenho uma paleta de cores
No interior do meu ser…
Há que pintar cada ocasião!
Tenho um tom de negro, quando a vida assim o quer…
Tenho um branco quando há vida a nascer…
Pinto sombras encarnadas quando falo com o coração.

É um quadro ilustrando a minha sina,
Com cinzento baço improvisado…
Em pinceladas grossas de resina,
São imagens cegas na tua retina,
São palavras mudas aninhadas no meu beirado…

Um toque de azul-turquesa
Pincelando os rabiscos mais tristonhos.
Captam cenas de tristeza,
De angustia sem certeza
Personagem de cena sem sonhos…

São cores que vejo no meu mundo!
Cores alheias á sala expectante do meu bem estar…
Cores pintadas no meu fundo,
Sem descrição do seu oriundo,
Tintas que correm no vaso mais profundo
No brilho incessante do meu olhar…

Renato Machado

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

contador de Histórias

“Mãe, quando crescer
Quero ser Grande!”

Bom dia minha senhora!
Arranja-me um saquinho de sonhos?
Serão bons com cenoura?...
Isso ainda demora?!
Ah! Não os quero! Estão murchos…
Parecem tristonhos…



Ofereceram-me um destino
No dia do meu primeiro aniversário…
Uma coisa boa, de corte fino,
“É para usar com juízo e tino!”
Disse minha mãe
E trancou-o no meu armário…

Quando percebi,
O tempo tinha voado…
Jamais vi tal brinquedo,
Não tive sonhos, tive medo!
O meu destino foi para mim um segredo
Às sete chaves foi guardado!



Histórias tristes sentadas no meu serão…
Vidas contadas em tom de lenda!
Se foi um Manuel ou um João…
O que me interessa é a conclusão
A voz que se ouve no meu coração
O alargar constante de tamanha fenda…

“Mãe, tenho sono…”

Renato Machado

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Meu Pecado

Escrevo… escrevo… e irei continuar a escrever!
Minha carta está fechada
Bem selada e carimbada
Papel inútil que não me é nada
Mais que a dor atormentada
Desejosa de se esquecer!

Escrevo aquilo que eu quiser!
Serei eu em cada expressão!
Uma fraude de mulher
Que me condene quem puder
Serei eu até morrer
Mas viverei a minha ambição!

Deixem-me abrir as asas e planar!
Deixem-me ir onde quero estar!
Deixem-me ser aprendiz…
Dos erros que irei cometer… que irei dar…
Darei os passos para caminhar
Irei cair!
Mas quero sozinho, me levantar!
Deixem-me voar…

Serei Maria Madalena
Serei p’lo mundo condenado!
Terei sempre comigo a minha pena
Cada qual, a si se condena
Pois não há casa sem pecado!
Não há costas sem costado!
Serei sempre Maria Madalena…


Renato Machado

domingo, 27 de setembro de 2009

Poeta

Grande é a palavra poeta!
No seu mais vasto significar…
Gigante como cometa,
É corredor de bicicleta,
Federado, alto atleta,
Reformado maneta,
Prematura proveta
Guardada na ampulheta
No tempo suspenso do teu olhar…

Tão pequeno é um poeta
Poeira minúscula no vento…
Será apenas mais um profeta,
Condenado a marioneta,
Pelo sonho que lhe infecta
As veias gloriosas do talento!

Morto estará o poeta
Às mãos da miséria erguida!
Quando o povo já não o veta,
A palavra que desperta
Andará por parte incerta
No tardio honrar da vida…

Renato Machado

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Heróis…

Desejar as alturas
Com os pés postos no chão
É arriscar loucuras,
Debater-se em guerras duras,
É pensar sem a razão…

Porque o sonho nasce…
Faz cócegas p’ra lá da consciência!
Almejando a vitória
De ganhar a guerra com glória,
Marcar o seu lugar na história…
Sem sapiência,
Por falta de prudência…
Falhará a memória!

Nomes triunfantes
Incandescentes… jubilantes
Não se erguerão
Ao som do que cantes!
Não virão…
São poucos os que saberão,
A quem pertence o nome marcado,
Nos mármores errantes…

Vive o presente
Na humildade do teu valor
Sê capaz, persistente
Sê igual… mas sê diferente
Por este mar de gente
Batalha com todo o fervor!

Abram portas ao futuro!
Bem-vindo ao jardim das velas….

Renato Machado

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Raquel (original)

Envolta em luz imaculada
Como o raiar da aurora no meu dia,
Chega de forma sereneada,
Torna a noite mais estrelada…
Sonante nome em melodia!

A vida é feita de demagogia.
Ensina quem não quer conhecer
Que ser uno não é ideologia,
Há que viver com biologia!
Reproduzir para viver…

O homem não é completo.
Ser humano que é feto.
A sociedade
Tem o seu complementar…
Relação é partilhar,
Saber ouvir… saber escutar…
Haver no coração, a sensação de amar!

E o homem é então completo…
Envolto em luz,
Numa sociedade
Onde a diferença é igualdade,
Onde é soberana a verdade,
Na simplicidade de um afecto.


Renato Machado

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Criança

Manhã submersa
Em nuvens rosa carmim.
Um por do sol,
Em si bemol,
Desperta te em mim.

Percorro a tua partitura,
Com dedos a vibrar na tua canção.
Canto pintura,
Danço escultura….
Rodopio na palma da tua mão.

Sou brinquedo de cordel
Sou alegria no teu olhar…
Pinto o mundo a pincel,
Sou cavaleiro com corcel
Mato o dragão para te salvar.

Alegria de criança
Num ôrigami improvisado
Deliciado de sorrisos infantis…
És um barco que balança
Que transborda de esperança
Nas manhãs primaveris…

És feliz, és pura
És criança que dorme dentro de mim.
Quando a vida é dura,
Quando o sol dá lugar á noite escura,
Procuro a minha criança…
Procuro o que há de melhor em mim.

Porque ser criança é ser livre!
É pureza e imaginação…
É ser pirata, é ser cavaleiro
Ser dono do mundo inteiro!
É ter alegria e amor no coração.

Caçador de Sonhos

Homem vem...
homem vai...
nada fica,
nada se identifica
com a chuva invicta,
que sobre o teu corpo cai...

foi mais um que passou
na intensidade temporal.
eterno enquanto durou,
mais que o sol, quando na noite brilhou.
antes de chegar o vendaval...

vai, vive e sente!
sê do mundo
e sê coerente!
toca na alma,
toca fundo
sê do mundo,e sê o mundo
que acalma...
o interior de tanta gente...

sonha!
deixa sonhar!
lá fora a vida sonha,
vai nas asas da cegonha,
embalada em bela fronha...
um dia... poder voltar a sonhar

terça-feira, 28 de julho de 2009

Finalmente

Fujo de ti…
Quero esquecer tudo o que se passou.
Fico aqui…
Não sei porque resisti
Talvez o que sentira… voltou…
Foram anos de amizade
Entreajuda, companheirismo…
Momentos que deixam saudade,
A loucura da idade…
Que terminou por egoísmo.

Dói…
Sinto em mim um enorme pesar.
Acabou! Já foi…
Não se constrói
Tudo aquilo que não se quer levantar!
Sim, odiei-te todos os dias…
Senti-me magoado
Não entendi o que querias…
O que eras… ou o que vias,
O meu pilar tinha-se desmoronado…

Não vi a verdade.
Confundi amor com amizade…
Instalou-se a confusão,
Passaste-me ao lado até então,
Senti-me preso na minha liberdade…
Foi na despedida…
Na hora de deixar para trás o meu passado…
Que percebi o que senti toda a vida,
O quanto te tinha amado.


Renato Machado

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Eleutheria

Que foi que eu fiz?
Porque estou eu a chorar?
Tenho tudo para ser feliz
Sou forte, com raiz
Impossivel de cortar...
Não sei porque me sinto assim
Como erva pisada pela manada.
Não sou querubim
Não sou nefelim
Mas não vou a baixo com a rajada...

Como carvalho resistente
Impossível de derrubar
Um ser quase omnipotente
Invejado de muita gente...
Porque estou eu a chorar?
Espectador das minhas memórias.
Houve algo que não se valorizou...
Repetem-se cenas irrisórias,
Futeis demais para ser estórias.
Mas com o interior...
Ninguém se importou...

Agora já sei como é!
Numa busca futil desmedida...
Sou como a poderosa Tié
Sou árvore que morre de pé
Quando chega o Outono da vida!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Gezebel

Gelo…
Sinto o meu corpo gelar
Como animal morto caído pelo chão.
O meu fim tarda a chegar
Num passo lento, num passo bem devagar
Não pára de me magoar
Fere me com as pontas do seu arpão.

Fogo
O meu corpo está a arder
Sou Joana na fogueira do terror
Mas nenhum anjo me vem ver
Não há ninguém para me socorrer
Sou só corpo a falecer
A minha alma canta júbilos de louvor.


É fogo, é gelo
Que importa como sou castigado?
É inferno, disso eu sei.
Se for queimado…
Se for congelado…
Vou ser castigado
É a minha sina, é essa a lei.

Para mim não existe o divino
Não tenho lugar na lista do senhor
Mebahel toca o seu sino
Gabriel canta seu hino
E Miguel mata-me sem mínima dor.

No final da cena
O pano cai num silêncio cruel
Sai tudo sem ter pena
Sou touro morto na arena
Na companhia solitária de Israel.

Letra: Renato Machado

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Álibi

Humanos
Desumanos
Cantam hinos
Tocam sinos
Em agudos mundanos…
Sou eu?
Será que sim?
Sou eu?
Mas será o fim?
Só me apetece rir de tudo isto!
E ninguém se ri de mim…

Espero pelo cair do escuro
Sentado na minha soleira
Pensamento obscuro
Bato, bato mas não furo
Nesta psicologia de algibeira…

Os carros passam
Os homens passam…
A vida passa!
Os tempos passam
As modas passam
Pela vidraça…

Quem?
Fui eu que estive ali?
Eu sei de alguém
Alguém que me detêm
Se souber o que lhe convém
Se souber o álibi…

quarta-feira, 17 de junho de 2009

bipolaridade

é um misto de sentimentos
um tudo num nada
muna mão bem fechada
vazia em desalentos...
os cacos estao espalhados pelo chão,
sinal incerto daquilo que ali se passou...
se foi amor... ou discussão
quem sabe?!
quem ali esteve... por la não ficou.

é assim a vida!
tudo é tão incerto
tudo se basea nos suposições de factos...
o livro luta para estar aberto
a união parece ser o mais certo
melhor que nos entregarmos a pactos...

voltas a rir
sem notares que o tempo passou!
afinal nao queres so existir
há algo em ti a surgir
salvador da mente que te aprisionou....

sábado, 23 de maio de 2009

linhas...

linhas...
são apenas linhas que estão aqui
linhas isoladas de pensamentos
linhas que um dia escrevi...
não são tormentos
não são sentimentos
são linhas! são só linhas!
o que é simples está á nossa frente
mas é demasiado obvio para se ver,
e acaba-se por dizer
"quem escreve, sente!"
teimosia humana!
velho defeito de ler entre linhas!
não sou poeta
sou filho da sociedade urbana
que corre toda a semana
ao ritmo das campainhas!
não quero ser rotulado
como ser humano frustrado
como ser amagrurado,
são apenas linhas!
que me saiem no momento
estrada por onde também caminhas
e palavras leva as o vento...

sexta-feira, 22 de maio de 2009

autovisionário

sei o que sou mas nao digo...
o meu ser só a mim me pertence.
ao mundo lá fora nao ligo,
sei que posso ser meu inimigo,
por ser mais que um indigo,
que luta sempre por aquilo que vence.
vejo a vida com outra dimensão
nem em grande nem em pequeno,
entre mim e o mundo existe imensidao...
(nao sofro de solidao)
estou entre o céu e o terreno.
sou vinte e sete(27)
a mulher e a sorte.
mas nada disto me promete,
esta sina a que me remete,
sou no meio sou valete,
termina caminho na morte.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

descriçao de mim mesmo

sao os sinais do tempo...
sao as marcas que deixei para trás.
o mundo é um tudo num nada
passa de forma mal compassada
e todos somos barrabás...
saliva nao basta para viver
se nao dizemos o queremos dizer.
palavra é dom de divindade,
sou deus se a souber usar
viver na mentira com verdade,
igualar a trindade
ser senhor condutor
do que posso vir a realizar.
...
sao desejos de um simples sonhador
lamentos de quem ter um sentir
eu nao gosto de falar de amor
amor pode ser sinónimo de dor...
e há tanta coisa para onde devo sorrir.

fugir é segurar
morrer é parar