terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Reflexo

São pequenos passos sem destino
Sem alma, nem a previsão futura de a querer ter.
(diz-me que não sou como tu)
Salto entre o planeado e a ocasião,
Para não receber o beijo que tanto quero receber.
Talvez por não querer ter um destino
Sabendo que hei-de cumprir, aconteça o que acontecer.
(diz-me que não sou como tu)
Passo palavra dentro do que ainda me conheço
E dizer-me que sou o contrário de um não,
Que afinal sou mais de ocasião,
E quem sabe o quanto me mereço…
A felicidade tem sempre um preço?
(diz-me que não sou como tu)
Já me dei conta te tanta coisa feita ao acaso,
De declarar medos que nunca senti,
Apenas por não querer seguir aquilo que é meu.
Apetecia-me ser alguém que em mim não se cruzou,
Alguém que desejei, e nem sequer me olhou…
Foi para isto que cresci?
Talvez a minha missão é viver com este “eu”…
(diz-me que não sou como tu)
Deixem-me apreciar este pequeno momento
Disso sim, tenho medo que se vá findar,
A incerteza tranquila de ser quem sou, não sendo eu
Não me querendo como lugar…
Quem sabe o que dirá de mim o vento…
Quem sabe onde ele me irá levar…
O que sou, nunca morreu,
Nem morrendo, o vou enterrar.
(talvez eu seja como tu)


Renato Machado

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Autonomia (auto-questão)

Esquece as verdades,
As razões,
Os medos e até as certezas.
Está tudo feito na tua medida
Ergonomicamente pensado para ti.
Vais falhar, e que mal tem isso?
Esquece os tons harmoniosos e as bondades,
As paixões
Os corações,
Os segredos humanos e as tristezas,
Vai falhar, vais perder, portanto sorri!

Esquece quem te encorajou a ser feliz
Incitando-te ideias pré concebidas na moral e no “bem maior”…
Crê no teu querer
Na força apertada que quer falar
Gritar
Poder se expressar
Através de ti, o teu ser.
Acredita apenas naquilo que o teu coração te diz…
Esquece as vozes em teu redor.

Procura em ti o que queres realizar,
Sê a persistência de quem luta, cansado de lutar…
Sê tu mesmo, encontra o teu lugar,
No teu coração, noutro coração…
Estarás onde te querem, onde se aconchegam na tua recordação,
Onde quiseres
Onde entenderes o verbo respirar.

Ou então não…
Lembra-te que cada mundo tem a sua razão,
Um destino, uma missão…
Nada é garantido
Apenas testado, acreditado, seguido…
Mas faz o que quiseres, seja qual for a tua auto-questão…



Renato Machado

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Isto da poesia… tem coisa que se diga...

Tem coisa mais estranha que a palavra?
Encontrar rima onde não existe…
A gente junta palavra com palavra,
É um caça-palavra!
Credo! Cristo!
Que esta rima persiste…
Nunca tinha visto disto,
Onde já se viu rimar sem ligar ao sentido?!

Talvez o dicionário, dele a tenha varrido…
Será que encontro tal léxico por aí perdido?
Vou mas é pensar no que hei-de escrever,
Uma palavra curta de tamanho menor
Ou palavra alongada de tamanho superior?
Alguma coisa há-de ser.
Devo eu desistir
Ou continuar até finalmente me sair?

Esta coisa das palavras é cá uma trabalheira…
Porque não posso eu escrever poesia à minha maneira?
Vai na volta se rimar, rimou!
Se não der…olha… paciência…
É apenas poesia, não requer muita sapiência.
O que está escrito, escrito está…
E mais escreveria se mais léxico houvesse
E até mesmo se mais linhas eu tivesse,
(Claro está)
E assim termino um poema que não começou.



Renato Machado

domingo, 7 de novembro de 2010

Viagem na companhia da Dor

Não sei o que me dói
Onde me dói,
Nem quando me dói,
Apenas sei que é dor que grita dentro de mim,
Dor que quer ser alguém, dor que quer viver para lá de mim.
Esta é a minha dor, eu sou a dor,
Dói tanto, mas nada digo, porque tenho de ser assim…

Dói mais a alegria que tento extravasar,
Os sorrisos esboçados que não saem de mim
Que vieram de outro lugar.
Dói mais os momentos de agitação e felicidade
Porque sei que esse não sou eu,
Apenas um corpo que Deus me deu,
Não me quero assim para minha verdade,
Dói tanto, mas nada digo, porque tenho de ser assim…

Não dói quando choro com gosto,
É como um calor de um fogo posto
Que acalenta esta alma sedenta de paz.
Sou eu se a tristeza não me dói
Se a bondade não me corrói
Se o que o tenho hoje, fique pelo caminho,
Para que possa ir sozinho
Sem saudades do que fica para trás.

Dói tanto, mas nada digo, porque tenho de ser assim…




Renato Machado

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Poligamia

Escrevi-te na minha carne,
Apertei os laços que ninguém vê
Mas que só a gente sente.
Deixa-me sentir-te,
Deixa-me sorrir-te…
Não dói mais (parabéns a você…)
E sobrámos nós,
Tanto silêncio num olhar sem voz…
Mistura-te em mim
Faz da festa uma carnificina!
Do meu palco, a tua sina,
No tempo de Columbina e Arlequim…

Mas só a gente sente,
Só a gente recusa a mão na hora de amar
Só nós temos coragem de viver em pleno
Fazer de um solo, uma plateia vazia, um sereno…
Um passo a passo inconsciente,
Eu sou eu, tu és tu.
Na minha carne, a sangue frio, a cru…
Meu bem, estamos cá para ficar.

Eu sou eu, tu és tu.
Jogo limpo, tanto corpo nu.
Vai onde tens que ir
Eu irei onde ele estiver, onde ele surgir
Porque não somos de ninguém
Nem a nós nos pertencemos…
Não vale a pena, não venceremos
É liberdade sem custar um vintém.


Renato Machado

sábado, 2 de outubro de 2010

Aos meus seguidores e a todos os visitantes.

quero anunciar a todos aqueles que gentilmente visitaram durante este ano e 4 meses que, Outubro de 2010 será o ultimo mês que o blog la vie en rose vai ter algum post novo. desde já, muito obrigado a todos, cada comentário fez-me reflectir e progredir na minha escrita. vou ter saudades, mas o blog não esta a ter a visibilidade que eu esperava e o meu sonho de poder levar a minha poesia mais alem não aconteceu.

ate à proxima meus amigos

Renato Machado

ps: de qualquer forma não irei apagar o blog, estará sempre visível

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

No teu Corpo

No teu corpo desenhei um coração
Bem grande, tão grande!
E no teu corpo mergulhei…
No teu corpo adormeci,
No teu corpo vivi…
No teu corpo sonhei
Sonhei que o mundo era belo
Sem precisar de perfeição.

No teu corpo não existe tempo em vão.
Bem grande… tão grande!
Tomara que o tempo pare,
Tomara que o tempo não passe, não ande!
Para poder ficar sempre junto ao teu corpo
Para poder ser o teu corpo…
Para nunca mais te dizer não.

Tomara que não seja tudo imaginação
Que tudo não passe de uma singela ilusão…
Quero o teu corpo…
Um corpo inteiro, imperfeito
Quero-o assim desse teu jeito
Quero o teu corpo…
Quero fazê-lo poema, quero torná-lo canção.

Adormece o teu corpo em mim
Para que nunca mais queiras acordar.
Corpo morto, prestes a se desfalecer, a se acabar…
Há sempre um cais onde te podes ancorar…
E talvez seja eu o teu fim.


Renato Machado

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tudo isto me dói

A tua saudade tem nome de futuro,
Tem vida feita no passado…
Porém mora no meu agora, no meu presente.
A tua saudade é tristeza encurralada para lá do muro,
É sentimento que persiste e eu não o censuro,
Uma muralha que me esfuma a mente,
Desaba sobre mim cada vez que se a sente…
É p’la tua saudade que todos os dias sou visitado.

Falta-me a tua grandeza e a tua pequenez,
O olhar-te, ver-te, sentir-te cada vez que penso num “talvez”…
Falta-me a tua presença que ardia em mim,
O querer estar presente onde não estou,
Porque tu lá estás e contigo, parte de mim ficou…
Esta é a tua saudade, que não me mata
Mas deixa-me assim,
À beira do abismo, da salvação, do fim.

Tudo isto me dói por te sentir saudade,
Por me sentir vivo, mas incompleto.
Por me ver por dentro e achar-me um ser obsoleto…
Tudo isto me dói por ser apenas uma metade.





Renato Machado

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Obrigado

Obrigado por não estarem lá
E agradeço-lhes por não me terem dado a mão.
Obrigado por nunca estarem cá,
Pelas vossas costas que a vida me dá,
Mas sobretudo, obrigado p’lo carinho e atenção…

Não, moro aqui na porta ao lado,
Na porta escura que passam sem olhar…
Por todos os pilares que não me deram, um “obrigado”,
De todo o coração, um agradecido “obrigado”,
Que a vida vos dê sempre uma boa lembrança
Um rasgo de esperança
Que vos faça de mim lembrar.

Tenho flores que a todos carinhosamente irei oferecer,
Flores brancas tal como a cor da minha luva.
Obrigado, a todos gostaria de agradecer
Jamais de alguém irei esquecer,
Pois não é por não se apreciar
Que a gente esquece o incómodo da chuva…

Estão todos aqui, enterrados nas catacumbas do meu coração.
Descansem em paz meus amigos.
Nos vossos caixões imaculados,
Feitos de madeira forte, da árvore da recordação.



Renato Machado

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Poema para uma despedida (ao meu pai)

O que sonhaste já lá vai,
Flutuando entre a espuma do esquecimento
Tal barco de papel que parte sem destino.
O que sonhaste já lá vai…
Vai seguindo a maré alheia ao esquecimento,
Como se pedisse guarida ao vento,
Como um pássaro voando no sol vespertino.

Vão sonhos, vão beijar a eternidade
Que quem aqui dorme, jamais lhe tocará.
Vão ser de outro alguém que lhes dê tamanha graça e valor,
Que tenha ainda energia, a força de ser calor…
Ai… vão sonhos, vão beijar a eternidade
Que quem aqui dorme, para todo o sempre dormirá.




Renato Machado

quarta-feira, 21 de julho de 2010

O meu Baloiço

É um vai e vem,
Um baloiço de pensamentos e recordações
Como recuar ao início do passado
E lançar-me ao incerto futuro desconhecido, enublado…
E vai… e vem…
Um baloiço, uma balança,
Uma dança!
O deixar-me conduzir p’las mãos de outro alguém…
Balançando entre memórias,
Velhas brisas poeirentas em histórias
Confundidas no meio de ilusões…

Meu baloiço vai alto
Tocar o desejo de escapar ao futuro
“É desta vez, eu juro!”
E a gravidade do passado aconchega-me ao asfalto…
Meu baloiço ia alto…

Ia alto, à altura que me queria tocar,
E voltei, recuei…
Fui o sonho que não fui
Fui o sonho que sempre serei,
Meu baloiço volta ao chão e torna a voar.



Renato Machado

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Nuts

Nem todos os que voam têm asas.
Nem todos os anjos possuem asas…
Por todos aqueles que delas não necessitam,
Para esses existem asas.

Mais valia se fosse a persistência a triunfar
Às asas comandadas por quem não conhece tamanho valor,
De quem só conhece a vontade de ser maior,
À vontade honesta de se primar.



Renato Machado

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Para a minha Maria Helena

Chiiiiiiiiu….
Dorme meu anjinho sagrado
Na paz de mil querubins,
Embalada nos braços de mil serafins.
Chiiiiiiiiu….
Dorme, sonha sempre com o céu estrelado.
Sou apenas um coração que se assola de sonhos por ti,
Que adormece feliz ao ver tamanha alegria.
Muita luz! Muita vida! Vai, sorri!
Meu anjinho de mel, estou aqui…
Chiiiiiiiiu….
Dorme, o amanhã será sempre um lindo dia.






Renato Machado

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cinco Estações (alter-ego)

Cinco mercês sem mira
E um sitio desejoso de se pousar.
Primeiro vai o “deixa andar” mais a sorte
Vai cedinho e cedinho traz a morte,
Traz especiarias perfumadas com cheiro a oriente
Para o presente, inconsequente, eloquente ocidente…
Pára de caminhar
Chiu… pára, olha, escuta, aprecia a sua ira.

Depois vai a carroça que ninguém toma rédea
E vem no regresso com bijutarias que nunca ninguém viu.
Vai Brasil… vem Abril…
Vai Abril… vem Brasil…
E a gente troca o passo com a linguagem
Porque sobra sempre espaço a cada viagem,
Porque existe tempo que já se esqueceu, ou nunca existiu.

Terceiro quer ser o primeiro
Ser imperador do mundo inteiro
Mas não quer ter fama nem sucesso.
Quer apenas fortuna e um regresso.
Junta-se-lhe o desejo e a passividade
E nasce o terceiro, não é carne nem é peixe
Nem é gente que se queixe,
Apenas se mantém sóbrio com a sua dignidade.

E quarto está onde lá mora,
Onde viveu ontem, vive hoje, aqui e agora…
Sem temer, oferece a alma que não tem
Por julgar que há quem precise do seu alguém.
Por ser sozinho, segue o caminho
Segue as pegadas que viu dar um dia.
O quarto quer apenas uma dose de alegria
Por estar farto do seu eu que chora.

Por último volta para trás de onde nunca quisera sair
E pede a deus que lhe faça esquecer todas as visões.
Fuma, bebe, e sorri.
Olha em frente sem saber o que vai pensar a seguir
E estende a mão a quem passa…




Renato Machado

terça-feira, 22 de junho de 2010

Sem panos nem planos

Talvez um dia ou para nunca mais…
Peixe, a maré ainda vaza?
Já sinto o cheiro do mar entrando em mim,
Cada molécula que se diz água
Rasgando-me num frenesim
Até alcançar a pedra segura do meu cais,
Talvez nesse dia, seja dia de nunca mais…
Vou ancorar mesmo aqui,
Tentar fazer da vida, a minha nova casa
E apelidar de vida a minha eterna mágoa.

Peixe, quando me levas contigo na maré?
Céu azul empalidecido é calor querendo chegar…
Mentiroso oprimido
Esperançado e destemido
Ansioso que o tempo o consiga enganar…
Talvez um dia… hoje não.
Sou massa mal cozida que não deu pão,
Massa rebelde que não lhe quis mão…
Talvez um dia, mas hoje vou a pé.





Renato Machado

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Poema a Deus

Há quem não te comente apenas por não saber o que dizer.
Também eu…
Evito enfrentar-te todas as manhãs da minha vida
Todas as tardes da minha vida,
Todas as noites da minha vida,
Toda a minha vida…
Há quem não te queira apenas por não ter de te querer.
Também eu…

Não te quero…
Não te choro…
Não me importo se estou só.
Assim o espero,
Até desespero,
Se for preciso, até adoro!
Mas não vou lavar-me no teu pó…


Sou corpo feito vida na madrugada
No lusco-fusco da terra meio adormecida.
Sou do nada, vim do nada,
Sou de gelo, sou geada,
Sou sol que queima na parede caiada,
Na manhã que é criança entristecida.

Também eu…
Há quem não te rogue por nem saber o que é rogar…
Já eu sei o que é te implorar…
Manhãs quentes e tardes de pão.
Acordares ausentes… adormecer na solidão…
Também eu sei quem tu és
E por o saber, não me ajoelho a teus pés…
Deus… também eu!


Renato Machado

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Poema da Indiferença

A indiferença faz-se de ver os outros,
Faz-se do tempo e da atenção dada ao alheio,
Faz-se da indiferença de o dizer a peito cheio…
Faz-se da carência de vertentes para onde olhar,
Faz-se da dor doida prestes a ajudar…
É saber em nós que necessitamos dos outros.

Viram-se costas desejosas apenas de chorar,
Mundos avessados desejosos de se levantar.
Vontade e coração numa luta tantas vezes desigual,
Onde o bem não é de ninguém
E o mal é fogo inato, animal…
Indiferença é vontade e coração eternamente a balançar.

Porque o homem é ser nascido da falsa indiferença
Quando Deus lá não está, mas vai nascendo em cada presença.
E nasce consigo, porém alheio à crença
Porque mesmo sem se crer, teme-se uma sentença.

E quando a indiferença não está onde se espera estar,
Há quem seja mais destemido e tome-lhe o lugar.
Faça da falsa cegueira um refugio para a falta de sentido,
E da falsa compaixão, um império destemido!

Indiferente é o gentílico da cada um,
Pois não existe quem não o seja,
Se esta é a suprema sentença que não escapa a nenhum.
Sejam felizes na negação da indiferença
Que ser-se humano nem sempre é recompensa,
E acentuo que Indiferente é o gentílico de cada um.


Renato Machado

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Aqui e Agora

Quis passar outro dia à rua onde cresci
E, rever-me nas memórias guardadas em cada peitoril,
Em cada soleira, em cada pedra da calçada
E lembrar cada passagem de Abril…
Quis entrar p’la porta e chamar a infância que eu vivi
E, rever-me em cada retrato que acolhi,
Em cada tela, cada peça por mim criada,
Marcando uma e mais uma passagem por Abril…
Não foi de saudade o nome que baptizei meu sentimento,
Foi ternura. Lembrar cada efémero do passado,
Eu era um miúdo tão amado!
Meu deus… porque o deixei levar na maré do esquecimento?
Não foi medo de ter medo de me recordar,
Nem sequer medo de ao passado regressar.
Não. Foi choro que se derrama por tamanha felicidade,
Foi uma mãe, os irmãos, a madrinha,
Foi o calor e o carinho em toda a face vizinha…
Foi todo o passado desejando ser essa a minha realidade,
Mas nada de saudade.
Nada de querer cambiar-me do hoje para o outrora,
Quando o que quero é apenas recordar tudo aquilo que já vivi,
O lar onde nasci…
Dentro de mim, aqui e agora.




Renato Machado

quinta-feira, 20 de maio de 2010

terça-feira, 18 de maio de 2010

Desabafos entre insónias

Olha como eles cantam para ti…
Como eles pegam em ti…
Como eles se aninham em ti…
É de gosto vê-los em amor
Sem nada quererem em troca, sem licença nem favor,
Movidos apenas p’la devoção a ti…

Por cada passo dado atrás
Vai um mais custoso garantindo lugar no teu céu.
Porque custa, sim, sempre é mais aquilo que custa,
Mas à má hora o medo a ninguém assusta…
Teme-se que a força não seja capaz,
Teme-se tudo, menos o que está para lá do véu…
Porque no banquete da enfermidade ninguém se degusta.

Sê paciente
Tudo passa, tal corrente…
Um morto também sente
Mas imagina-te na pele da gente…


Renato Machado

domingo, 16 de maio de 2010

Só te peço...

Só te peço, não venhas tarde demais…
Quando eu já não ouvir o que tens para me dizer,
Quando eu já nem a tua palavra reconhecer,
Quando eu já estiver para te esquecer.
Só te peço, não venhas tarde demais…
Quando eu já estiver a dormir em cima da tua saudade,
Quando eu já não tiver noção da realidade,
Quando para mim já não fores a derradeira verdade…
Só te peço, não venhas tarde demais…
Só te peço, vem agora!
Vem dizer-me tudo o que está certo nesta hora,
Vem dizer-me que o que sinto não se irá embora.
Para quê tanta demora?
Só te peço, não venhas tarde demais…


Renato Machado

sábado, 15 de maio de 2010

Para fugir da rotina da poesia II

Cada qual tem o seu lugar

- Um bilhete para um sítio qualquer… – disse ela com os pensamentos perdidos. Sabia onde estava, mas não sabia onde queria estar, muito menos sabia se esse seria o lugar ideal que tanto sonhara, apenas uma certeza lhe prevalecia “eu não quero estar mais aqui”.
Saiu da fila e vagueou por entre os bancos apinhados de gente. Gostava de observar os outros, sempre assim foi, estava-lhe entranhado na pele, no sangue mas, não se punia por isso aliás, tinha essa característica como uma mais valia na sua vida, fazia-se crer que observar os outros era uma escola, um guia prático de como se deve actuar em qualquer situação. Porém continuava a existir o vazio…o vazio de saber que lhe falta aprender uma lição, e saber qual a lição em falta, ainda pior. Ela precisava urgentemente de se encontrar, ali não estava então, “vamos partir para outro lugar”.
Apressada, com vontade de pousar finalmente no seu enquadramento, entrou, atropelando várias pessoas, na carruagem da frente. Escolheu um lugar perto da janela, onde pudesse ver o nome de cada estação ou apeadeiro, onde pudesse observar a paisagem, respirar o vento que lhe entraria de rompante e bateria na cara, despenteando-lhe o cabelo, e respirar cada centímetro de terra percorrida. Tudo isto fazia parte da sua busca. O comboio iniciou viagem e ela não descolou um segundo do seu lugar. Entre olhares curiosos que deitava aos seus companheiros de viajem para tentar perceber onde iam e o que faziam, e o mundo que passava velozmente pela janela, tentava perceber onde iria desembarcar.
Passou a primeira estação… a segunda… a décima… a vigésima segunda… “não, não é aqui. Mais um pouco, estou quase lá”, pensava ela a cada paragem do comboio. Olhava lá para fora e cada rosto, cada pedra, cada árvore, nada lhe diziam. Mas não a julguem por frustrada, não… era apenas alguém que queria sempre mais. - E que mal tem querer mais que aquilo que a vida me dá? – Dizia ela tantas vezes a si e aos que tantas vezes lhe abordavam com a questão da procura.
Finalmente a viagem terminara por não haver mais linha-férrea para percorrer. Contrariada, teve de sair do lugar onde se encontrava confortavelmente instalada e enfrentar um novo lugar, uma nova gente, uma nova maneira de estar. Pegou na mochila, botou às costas, saiu vagarosamente da carruagem de modo a aproveitar cada segundo deste nova experiencia. Deixou para trás a confusão do terminal e fez-se às ruas apinhadas de betão e de gente. “Ainda não me encontrei”, pensava ela em cada imagem nova que ia retendo na sua mente… ao passar a estrada encontrou o seu lugar e deitada no chão com dezenas de desconhecidos à sua volta gritando, chorando, pensou “ está quase miúda, falta pouco para chegares lá…” fechou os olhos…




Renato Machado

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Visita do Amigo Bento XVI

Não senhor!
Gostava eu de poder correr no limbo,
Gostava eu de escarrar palavras entaladas!
Não senhor! Der por onde der, seja lá quem o for…
Seja gente, seja mulher…
Pedaço de pecado caído de onde o esquecer,
As memórias não serão apagadas,
E eu tenho por mim amor!

Vão passear meus amigos
Que aqui não se chora mais e se deixa fiado.
Vão para o diabo que vos carregue
Tanta maldade junta, só ele mesmo a consegue,
Aguentar de rosto animado!

Não se mendiguem com pragas do Restelo,
Não façam o bélico parecer belo,
Não me façam a mim desfiar-vos o novelo…

Dó… lamento sentir por vós pena
Mas é o que sinto e tem que o ser.
Esvaiu-se-me a paciência de crer em passarolas voadoras
A esperança de um dia girar os 180 graus e mudar-vos de cena…
Todas as cabeças são e serão sonhadoras,
Mas a vida tem um caminho e, é para a frente que assim deve ser.


Renato Machado

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Adeus Amigo

(Em linha recta para o calor
Duas torres brincam a meio do rio).
Vai tu, eu cá não arrisco…
Não sou de medos nem heroísmos,
Muito mesmo de cinismos.
Prata e ouro, para mim são isco!
Vai sozinho por favor,
Sou sombrio, tenho frio
Vai sozinho, leva lá quem comigo não for.

Que dissera a hora quando eu não apareci?
Tomava leite tão rasca como o triste vinho…
Que disse a água quando eu não a bebi?
Eu já estava longe no outro lado do ninho.
Não obrigado, sorte tua por seres tenaz,
Eu cá me conheço,
Não me mereço
Não tenho vontade para tal feito ser capaz.

A barca vai na hora atravessar a corrente,
Não te deixes atrasar para o nascer do dia…






Renato Machado

quarta-feira, 5 de maio de 2010

terça-feira, 4 de maio de 2010

Meu Vicio de Fernando Pessoa

Pedra de cal…
Poeta concebido de areia e sal,
Santa macumba, benzida de todo o mal,
Coração batendo desventurado
Pensamento longe… sobrevoado,
Essência nata do seu original.

Poeta que voa na incerteza do feito…
Poeta cantor de melodias tristes, da dor no peito.
Sol de lua que não se condiz
Palavra nua que a rua tem como sua aprendiz…
Poeta amado assim do seu jeito.

Essência sem norte,
Pescador ingrato de ideias e de sorte,
Velha carcaça amedrontada p’lo esquecimento da morte…
Poeta sem medo de ter medo
Ou medo de até assim não se sentir!
Poeta do segredo
Na ânsia, a ganância de assumir
Que o seu ego é mais forte!

Palavras ingratas
Ideais interiorizadas, inatas
Poeta em razão de ser nascido,
Poeta em razão de perecer, em si sucumbido…

Poeta das horas passageiras,
Cardume de vida fervilhando na alma!
Palavras doces que o pensamento acalma,
Ai poeta…poeta de tantas cegueiras…



Renato Machado

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Redescobrir o Sol

Faz espuma…
Coração triste no final do dia.
Brinca na bruma,
Vem perfumando o ar com caruma
Esta inquietude teimosa, quer ser apenas mais uma,
Uma lavando o chão onde se erguia…
Solta um beijo perdido
Felicita a ânsia de estar para lá do futuro!
Ri! Ri alto!
Voa para lá do asfalto…
Cola todas as penas encontradas no caminho ardido,
Ah… como é belo o outro lado do muro!

Está entre as estrelas intocáveis
Que Ícaro outrora almejara abraçar.
Sim, destino é destino, há que o cumprir!
Enverga-te nas tuas asas, hás-de conseguir…
Planar e sentir…
Os ventos imemoráveis,
As paisagens inimagináveis,
Que do alto do sucesso se consegue avistar.
Sê a força de poder arriscar o coração
Apostá-lo na roleta russa da espontaneidade,
Ganhando fortunas de emoção,
Rios de paixão,
Sê tu mesmo, sê a irreverência,
A simplicidade
Vai onde não te leva o caminho batido oposto à razão.



Renato Machado

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quero...

Quero dar um passo
Não…quero mais, quero dar dois!
Quero um abraço,
Quero um regaço,
Quero mais, quero espaço,
Quero o antes, o agora e o depois…
Quero saltar de sonho em sonho,
Quero navegar daqui para acolá,
Quero sentar-me e beber chá,
Quero tudo aquilo a que me disponho,
Quero o mundo, quero deus, quero alá!

Mas a vida não é assim
Não basta sonhar
Não vale a pena implorar,
Não me cai do céu o pó de perlimpimpim…

Quero dizer adeus ao chegar
Quero saudar na despedida,
Quero ser eu a assinalar a partida,
Quero ser um carro de corrida,
Quero prazer e me presentear
Com o que há de melhor e pior na vida.
Quero um beijo roubado,
Roubar o destino que não me pertence,
Quero eliminar aquilo que me vence,
Para me poder desprender
Voltar a ser
Recomeçar a viver,
Sem viver no passado.



Renato Machado

terça-feira, 27 de abril de 2010

Rir a bom rir

Rir a bom rir
Como prata barata, mesmo assim reluzente!
Fartotes e pinotes…
Desdenhar de consortes…
Rir do mal e de todas as mortes,
Porque a comédia é o sangue dessa gente!
Rir que é bom rir…
Mentir tem sorrir,
Tem o futuro que há-de vir…
E o passado que nem ressuscitado voltará a surgir.
Gargalhadas de alívio e suores frios,
Tempos levados em mil águas
De mil rios.
Gargalhadas de contentamento…
Rir a bandeiras despregadas,
Aortas bombeando aceleradas,
Sangue garrido apressado como o vento!
Já que rir é apenas rir
E sorrir é tantas vezes fingir,
Então, a felicidade de tantos faz-se de mentir.
Faz-se do fermento explosivo da emoção contagiante,
De acontecimento repentino, inesperado, cavalgante,
E desatamos a rir!...
Mal ou bem,
É esta pequena felicidade que a todos convém.
Mal ou bem…
Pena daquele que não a tem…
Rir e voltar a rir…
Chorar vezes sem conta de tanto rir!
Faz rugas… mas faz sentir,
Que a tristeza,
Com certeza,
Essa há de um dia vir.



Renato Machado

terça-feira, 20 de abril de 2010

Lágrimas

Uma lágrima é um mito,
Uma lenda que vai descendo suavemente
Contando fábulas de passados menos felizes
Que a gente escuta atentamente
Sentindo o sal na nossa pele dormente,
Como se fosse impelida a vontade de soltar um grito.
Uma lágrima é diamante bruto do coração
Extraído pela pá e a picareta da emoção.
Uma lágrima é fruto tantas vezes maduro.
Que cai com o passar das eras.
Das lágrimas também nascem as primaveras…
Lágrima é fruto rijo na verdura da vida,
Que se agarra ao que a contém…
Já que chorar não se digna por ninguém,
Pois o esquecimento é tantas vezes uma lágrima contida…



Renato Machado

informações sobre o autor

atraves deste meio, faz-se saber que renato machado, esteve nos passados dias 16 e 17 de abril, integrado na semana da juventude, com uma exposiçao de alguns dos seus desenhos na sede da assossiação almadrava em santa luzia.
faz-se também informar que o autor está já a preparar uma nova exposiçao de poemas ilustrados, poemas que pode encontrar neste blogue.

Teatro do meu “Faz de Conta”

Quando nos foge a alma… foge-nos tudo.
Os ramos, os galhos quebrados à sua passagem,
Os verdes esmeralda que ao longe nos falam…
O mundo pára quieto, surdo e mudo.
Até o vento deixa de circular por entre a paisagem,
No vazio de vozes estridentes que ali se calam.

O interior tenta em vão a escapatória,
O passo em frente… não tem fama, não tem glória…
Porque o que a ninguém pertence,
Por ninguém luta, nem sequer a si se vence,
Quanto mais, vincar assento no platô vivo da história.

“Palmas à dona Alma e à sua coragem!”
E todos aplaudem de pé a exímia actriz,
Aquele vulto virtuoso que cala quando a si mesma o diz:
“Felizes aqueles alheios à minha imagem…”

Oh que gente tão bem vendada na cegueira da vida!
Qual foi a lição não aprendida, mal ensinada,
Qual foi a palavra que não lhes foi assimilada
Qual a lição desprezada de guarida?

Não se abandona o palco repleto de palmas
Muito menos quando este ainda respira uma réstia de luz.
Mas são tantas as minhas “donas Almas”
Quando perco a noção de quem me conduz.




Renato Machado

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O barco vai quando há bonança…

Não aceito devoluções
Nem reclamações de sentimentos gastos.
Desculpem, mas por hoje fechou…
Quem julgam ser?
Quem julgam ser neste circulo de varões?
Nada depende do que quero dar,
Somente a intenção com que as quero receber…
Não foi a minha alma que se esgotou,
Muito menos a garra, a fúria que se emancipou!
Só estou cansado de todos os dias me defender…

Quem come um prato de vaidade
Não engole a seco a humilhação…
Mas quem se senta à mesa na cadeira comida p’la humildade,
Tem fome de tudo que vê
Esquecendo-se tantas vezes a dignidade…
De tantas vezes que nos apodrece o coração.

Nem cavalo nem espada.
Nem força para as arreias da confiança…
“Espera filho… o barco vai quando há bonança…
Espera filho… a noite é uma criança.”



Renato Machado

terça-feira, 13 de abril de 2010

Paralelos

Lá ao fundo, vejo a invisibilidade
As formas que se pavoneiam e troçam de quem não as vê…
Dançam freneticamente entre os braços da ventania
E gracejam movimentos de alegria
Como se a cegueira fosse a sua magia…
Como se a cegueira fosse dom prodigioso digno de gratidão…
Minha estranha maldade,
Meu pedaço de nada sem piedade…
Meu fruto inglório aos infortúnios da solidão.

Silêncio…
Elas caminham lá de longe pisando flores,
Cada passo, cada impulso…cada nota… cantada por entre respirações…

Não venham tarde… venham com o cair da escuridão.
Mas não batam a porta,
Entra simplesmente, como se o meu mundo fosse vosso,
Como se o ar que respiram fosse vosso…
Como se o meu coração fosse o vosso…
Espero… sem querer uma razão.

Não deixem que eu me desprenda,
Cortando as amarras que me prendem ao vosso lugar.
Quero continuar a ver o que não existe,
Como se existisse e fosse a realidade em mim soberana.
Porque o que os outros vêm, é apenas uma forma humana
Imperfeita, sem emenda
Desprezando até a sua corrigenda…
Quero apenas ver e saber que é na ilusão que quero ficar…
Para sempre o meu eterno lar…

Adeus não digo…
Apenas agradeço,
E assim da realidade fria me despeço,
Pois é por este caminho que agora sigo.




Renato Machado

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Trono de São Fiel

Enormes, vastos, volumosos!
Semelhantes a balões de ar quente flutuando…
Cores… sóis! Infinitos como a felicidade!
E sorrio aos desejos que me pintam a imaginação,
Como uma alegre canção,
Cantada entre gargalhadas colhidas na horta da ingenuidade,
Com a minúcia precisa nos dias calorosos…
Nos dias que te vou em mim cantando.
E corre para os tapetes tonificados de verde amarelado,
Rebola na espuma que brinca na rebentação…
Inventa histórias coloridas que ninguém vê…
Há melodias que não se escutam, mas a alma as sente!
Vem de longe quem as sente,
Para sentir o arrepio gélido que em si o crê!
Porque para cada sonho existe uma canção,
Existe vida que lateja ferozmente de emoção,
Existe o presente, um futuro, a quem não se tem medo de dizer:
Eu também sou feito de passado!




Renato Machado

segunda-feira, 5 de abril de 2010

My Sweet July

Quero fugir daqui…
Quero ter palavras soltas,
Quero libertar os meus pensamentos negros,
Porque não há cor de onde vim…
Não há luz no céu, no lugar onde nasci…

Lateja-me as veias o sufoco de não poder estar comigo,
O sufoco de ser eu mesmo, o meu inimigo…
O sufoco de não conhecer em mim mesmo,
O meu abrigo…

Rasga-me o corpo o sorriso jogado sem qualquer sentimento,
E o olhar preocupado, que nem no fundo tem preocupação…
E quero fugir até de mim…
Apenas sei que não quero estar cá quando for o fim,
Para sem medos, poder sorrir, gargalhar de satisfação!
Rir, pois o mundo tem mais para me dar então,
Sentir que se findou em mim, o meu sofrimento….

És apenas mais um que se vai,
Mais um que parte sem nada me dizer…
Mas eu não tenho a culpa de não ter amor para dar,
Se o teu amor nunca o tive a receber…
A pequena lágrima que agora me cai,
Não é por tristeza por te perder,
Mas liberdade em mim a nascer…




Renato Machado

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Alice

Olha Alice! Têm cores…
Assumem formas irreais!
São pequenos nadas feitos de louvores,
Pequenos enganos e desamores,
Pequenos golpes, singelas dores,
As cores vincadas de todos os teus ais…

E nada vem por acaso ou ocasião,
Nem porque a vida decide-se esbanjar em agrados,
Só Alice enxerga o que é real…
Só ela distingue o que é o bem, o que é o mal,
Só ela sabe que o Criador não é alucinação…

Alice…
Os cânticos são infindáveis,
As nuvens correm sem saber o destino que as faz chegar…
Quem me dera que também ela não o visse…
Pobre Alice…
Até o teu mundo há-de findar…
Nem as tuas memórias são memoráveis,
Alice, cuida para que a tua sombra não se deixe apanhar…






Renato Machado

terça-feira, 30 de março de 2010

São Pessoas...

Não quis esperar que a saudade batesse na sua morada,
E partiu desejando que o amor tivesse um dia lá vivido…
Não entendeu que o sentimento desejado
Fora por ele o mais desprezado,
O mais mal acarinhado…
Aquele que mesmo antes de morrer, nunca havia de ter nascido…
Mas nem sequer sentiu o cheiro da curiosidade
Ou o simples peso que o vazio tantas vezes oferece…
Não… sentir, sentiu o impulso que lhe indicava a saída,
A romaria, rumando ao que seria a sua vida,
Ao que seria para todo o seu sempre, a sua verdade.
E deixou-se levar, tal força vencida que a memória esmorece.
Logo se viu na luz negra que lhe envolvia,
Como um laço bem apertado massacrando as suas esperanças…
Porque amor, não havia!
Quem amar… não existia…
Saber amar, nem sequer o sabia,
Pois nem de sentimentos vividos, viviam suas lembranças…

São pessoas, só pessoas…




Renato Machado

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Beijo

Será proeza tamanha a sabedoria de amar livremente?
Os seus dedos rodopiam na incessante trégua sem razão…
Se as memórias alimentam as sensações,
Se os gritos escutados, são bramidos de corações,
Para quê esconder aquilo que de veras se sente?
Não será gesto este mais prudente,
Que viver na própria negação?
E os impulsos que são humanos,
Escondem-se por detrás do pano opaco translúcido
Com medo até de poder voltar a sentir a liberdade…
A estranha sensação de ser livre para amar!
Como se a sua alma fosse livre de se ausentar,
Dos deveres por si impostos, desumanos.
Mas é dele a vontade de se sentir oprimido,
Dele a vontade e a força de se conquistar…
E poder amar,
E voltar a amar…
Amar, ser livre de amar… no beijo da liberdade!





Renato Machado

domingo, 28 de março de 2010

Nova Etapa

Cheguei ao fim de mais uma estrada
E o futuro está para lá daquele cruzamento
O cruzamento que me chama e diz para crescer
Que me diz para seguir em frente
Pois atrás aperta no engarrafamento de tanta gente…
Sinto em mim o pulsar da batida acelerada
Que me dá impulso a cada momento
Como se fosse maior a necessidade de o dizer.

Mas sei que o fim é somente mais uma luz que se inicia,
Que treme a medo e diz-me para a seguir.
Mil e um significados em que posso deduzir….
Há que saber qual o melhor para me impingir,
Afinal, é mais que uma fase,
É a minha próxima estadia.

Então calço as sandálias já gastas da caminhada
E parto em busca do que é desconhecido
Mas que sei que existe.
Está para lá daquilo que não tenho, mas almejo
É só um desejo…
Uma linha que quero deixar bem vincada
No que é me imposto, no que me é pedido.
Não tem nada de triste,
Apenas a ambição que em mim persiste.



Renato Machado

segunda-feira, 22 de março de 2010

Velha Canção

Não posso oferecer o que não tenho,
Mas posso querer o que não é meu…
Porque a liberdade de alcançar o alheio
É-me tão certo como o mundo ser um copo meio cheio,
Onde o que não se afogou, morreu.
Onde a mão que lanço, vem cheia quando a mim venho…
Misterioso é querer o que me pertence!
Como um golpe baixo que a mim me vence…
Certeza de querer o mundo dos outros…sim.
Porque o que tinha de eufórico, esvaiu-se…
Foi-se, sumiu-se…
Até julgar não ser tão mau o fim.

E no resto que sou, sou Abril,
Sou a primavera que vai raiando sol no que há em mim.
Mas até as andorinhas não são eternas…
As alegrias são fugidias quando se vêm com pernas,
Vão alucinadas, beber copos nas velhas tabernas,
Vão derramar vinho no imaculado cetim…
Vão ser aquilo que julguei guardar para o fim…
Porque até em mim, o lembrado torna-se senil.

Já não quero o que não me pertence
Vou esperar simplesmente que o calor do verão
Me lave as dores com panos frios,
E me ensope os pensamentos no turco da sua compreensão.
Porque aquilo que não me vence,
Unifica os meus arrepios,
Como se me cantassem uma velha canção.

Renato Machado

sábado, 20 de março de 2010

Perspectivas de Futuro

Não sou de papel
Nem nunca o sequer ambicionei ser.
Carne e osso,
Sou o que sou, sou o que posso,
Rindo aqui…chorando ali…
Nem Deus sabe quando nasci!
Quanto mais benzer-me a testa com mel…
Sou assim, só para contradizer.

Quando quero, fecho a loja, faço gazeta,
Vou passear à baixa dos meus passados,
Vou mandar pedras aos gatos no quintal da minha recordação.
Apanho a carreira do “já esquecido” na próxima camioneta…
Vou olhando pelos vidros embaciados,
Pedaços de mim, por mim abandonados,
Mas também, nem por eles tenho afeição…

Acho que ainda me hei-de rir da minha tristeza,
Por julgar ser ridículo a felicidade com dizimas da fortuna.
Mas eu sou assim, contradizendo os meus apertos,
Vou por caminhos quase sempre incertos,
Provando a mim mesmo que não nasci para ser religioso,
Quanto mais, receoso!
Só o que me é inato é a rudeza
No confronto, frente-a-frente com a minha lacuna.



Renato Machado

sexta-feira, 19 de março de 2010

Guarda-Jóias

Vou neste caminho desalinhado
Como se a parte mais próxima de mim
Fosse a distância que me une os segredos,
Os alicerces robustos ignorantes aos meus medos,
Que se revoltam cá dentro, tal tamanho frenesim,
No corpo entregue ao eterno segundo realizado.

Os cantos e recantos escondidos da minha essência
São vastos, são infinitos,
São carreiros de pedras roladas, macias à passagem.
São guarda-jóias que se mostram com imponência,
Vitrinas expositoras de sentimentos bonitos,
Que nada mais são que uma manipulada imagem.

E o pequeno diamante reluzente
Está feliz por ser forte,
Por saber as lapidadas sofridas…
As forças inatas por si erguidas,
Pois é pedra sem coração que, inexplicavelmente sente,
Até mesmo o arrepio da morte.




Renato Machado

sábado, 13 de março de 2010

SKINY JEANS

Vem beijar o meu corpo num segundo,
Vem dar-me a vontade de querer parar o espaço temporal,
Vem viver o momento…
Apenas dois desejos… um só desejo… um eterno momento!
Já nem sinto saudade, nem pressa de chegar ao mundo.
Acordar? Seria sofrimento!
Quem sou eu para querer tal tormento,
Se o que desejo, é no fundo,
O teu pecado original?

Vem bailar naquilo que é meu,
Como se a vontade de o realizar falasse mais alto que a fome!
Porque é fome de alma, fome do que é teu…
Fome de prazer, fome de ser feliz!
Que tem mal na alma quando a verdade assim o diz? …
Quem não quer ser feliz?
Quem não quer aquilo que sempre o quis?
O diabo leva a alma desamparada, que na secura a consome…

Vem… beijar meu corpo no passar das horas,
Vem dar-me sabor ao insonso que é o meu gosto…
Vem olhar-me de azul o meu castanho…
Vem ver como um segundo é belo, de seu imenso tamanho!




Renato Machado

quarta-feira, 10 de março de 2010

Não o fales em inglês

Calma… não carece de pressa.
Passo a passo, devagarinho,
Tudo se faz, tudo tem a sua vez…
Hoje a palavra que se confessa,
O olhar roubado quando teu corpo me atravessa…
Mas não o fales em inglês!

Não digas palavras para a qual não tens um sentido,
Diz-me o dia-a-dia,
Uma palavra vaga… para mim já é alegria!
Um sorriso… uma expressão…
Pouco a pouco… o meu coração!
E sem o perceber, ao teu encontro, terei sorrido.

O mundo não acaba amanhã…
Toca nas pequenas maravilhas da aventura!
Toca em mim, toco em ti… será ternura…
A felicidade no pecado dentado na nossa maçã.



Renato Machado

segunda-feira, 8 de março de 2010

Carta ao Amor

Hoje apeteceu-me dizer que penso em ti… tem dias que acordo contigo no pensamento mas, nem sempre tenho coragem de o admitir.
Há dias que anseio pela tua imagem no meu pensamento, desejando até que aquela imagem móvel, mas muda, diga aquilo que naquele momento quero ouvir. Mas a tua imagem não fala…ou pelo menos eu não consigo que a minha imaginação vá mais longe que isso. Talvez nesses dias, deva pensar com um pouco mais força… talvez assim resulte. Nesses dias quase que sou feliz sem o saber…
Tem dias que o que menos desejo é ter-te no meu pensamento! Irra! Tudo aquilo que me faz lembrar de ti, tudo aquilo que olho, toco, ouço ou simplesmente sinto, dá-me uma tremenda vontade de partir, de despedaçar! Mas evito. Então fujo para bem longe, para um sítio calmo onde haja algo que me faça mudar de ideias. Nesses dias assim, tenho medo de mim, medo do que faço ou deixo de fazer. Sinto-me inseguro, sem certezas de nada! É nesses dias que para mim és somente uma dor de cabeça que teima em não se extinguir.
Outros dias, penso em ti como se fosses um “pensamento do dia” que toda a gente escuta sem tomar a devida atenção. Ando descansado, sempre contigo lá no fundo, no lugar mais refundido do meu pensamento, que me faz nem sequer perceber que lá estás… mas estás por lá! Quando isso me acontece significa que estou completamente tranquilo, comigo, contigo, com todo o mundo à minha volta. És como uma canção que antes me fazia companhia nos testes de geometria…
Naqueles dias em que sinto um vazio por dentro, uma estranheza, uma leveza na mente, apercebo-me que ainda não te dei a devida atenção. Então, lá ando eu muito preocupado, com medo de te poder esquecer por alguma eventualidade. Ando feito uma barata tonta que não sabe o que faz, que, com tanta tarefa, acaba por confundir e baralhar as ideias… nesses dias andas perdido entre as compras do supermercado e o lembrete de aniversário de alguém…200g de queijo…tu…aniversário da Rita…tu… pagar a conta da luz deste mês… tu… sempre assim. Quando esta confusão acontece (curioso…), chego ao final do dia com a sensação de auto-controlo, que sou capaz de coincidir tudo, de segurar todas as pontas. Sinto-me responsável, capaz de te ter a ti e ao resto da minha vida.
Hoje, logo hoje que arranjei coragem de admitir que penso em ti, decides por capricho que, não queres ser mais que um pensamento! Mas se já me és familiar, já fazes parte do meu dia-a-dia (é que não há um único dia que não penso em ti pah!), já que fui capaz de admitir coisas que me embaraçam…desculpa, mas não vou deixar a tua ideia para trás só porque tu decidiste por teimosia que, pensamento é pensamento e, realidade é realidade!
Vou continuar a pensar em ti, quer tu queiras quer não…quer tu existas, quer não!




Renato Machado

sábado, 6 de março de 2010

p'ra fugir da rotina de poemas...

Reparem bem neste pequeno diálogo que no outro dia surgiu dentro da minha cabeça…

- No outro dia dei por mim a pensar em coisas que tenho saudades…
- Ah sim? E o que foi que te lembraste?
- Olha… tanta coisa! De jogar ao berlinde por exemplo!... De coleccionar os cromos e não comer os Bollycaos… tenho saudades daquele ano que íamos para a escola e ainda o sol não tinha nascido… lembras-te disso?
- Não. Era muito pequeno nessa altura. Só o sei porque tu já me contaste isso, dezenas de vezes!
- Pois é, marcou-me… e tu?
- Eu o quê?
- De que é que tens saudades?
- Sei lá… nunca pensei muito nesse assunto. Mas agora que falas nisso…acho que tenho saudades de ser criança… principalmente, tenho saudades das vezes que ralhavas comigo…
- Saudades disso?! Porquê?
- Sei lá eu… não sei, mas cada vez que penso naquele tempos, fico com um aperto bom no coração. Fico feliz… não sei explicar bem, mas não época, eu ficava triste cada vez que ralhavas comigo, mas hoje entendo essas atitudes de outra forma. Então fico feliz ao perceber que naquela época era protegido.
- Quê? Ficas feliz só porque eu ralhava das asneiras que tu fazias? Tu não regulas…
- Sim! Que queres tu que eu faça? Naquele tempo era livre e não tinha responsabilidades. Apesar de fazer as coisas mal e levar raspanetes por isso, tudo acabava bem! Lá vinhas tu e resolvias o que havia p’ra resolver…
- Então, mas hoje és crescido! Já tens idade p’ra saberes cuidar de ti!
- Eu sei! Por isso é que tenho saudades! Sabes, é que quando somos pequenos, dependentes, queremos mais é que o tempo passe depressa! Estamos sempre a disparar: “nunca mais faço 18 anos!”… mas quando chegamos lá e vemos que estamos por nossa conta…
- Isso é verdade. Mas a liberdade tem tanta coisa boa…
- Mas não tem aquilo que me faz ter saudades de ser criança…
- O quê?
- Ora esta! Já disse! Tenho saudades de me sentir protegido! A liberdade, e dizes bem, dá-nos muitas coisas boas: uma vida pessoal, a nossa independência, a tal vida longe dos pais… saímos do mundo que sempre conhecemos e entramos num mundo completamente novo! Apesar de tudo isto, tenho saudades de poder cometer erros e ser perdoado, saudades de ter aquele porto de abrigo…
- E na liberdade também o tens.
- Sim, também. Mas aí passamos nós também a ralhar com os outros porque passamos a ter o tal sentido da preocupação… começamos nós a ser o porto de abrigo de alguém…
- Essa conversa parece-me um tanto ou quanto egoísta.
- Talvez… mas acho que é, principalmente, medo de crescer, de perceber que na minha vida, mas tarde ou mais cedo, terei que lhe tomar as rédeas, percebes?
- Cresce…
- Está bem. Irei crescer quer o queira, quer não… mas por favor, nunca deixes de ralhar comigo!





Renato Machado

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Nato

O meu tempo,
Leva-me no tempo…
Leva-me nas dores de quem me fez…
E o sofrimento…
Não tanto como um tormento,
Mas o grito do fado que tenho em minha pequenez…

O vagar que passa a correr…
O sino que toca dentro da minha cabeça….
E tudo começa!
O longe que passa raspando bem perto,
A confusão de gente no meu deserto…
E tudo em mim está pronto a nascer!

O meu mundo teima em me expulsar,
O queimar…
A luz que a dor estreita me oferece,
Meu corpo quente, de estranheza, arrefece…
As mãos que me tocam em novidade,
O choro impõe-me a voz…a realidade!

Nasci!
Não sei quem sou,
O que sou…
Onde estou?
Vou ficar aqui….




Renato Machado

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Luz de Sol

A luz que me entra é bem-vinda
Como o beijo quente de minha mãe no meu rosto.
Suavemente acaricia o que dorme em mim,
E brinca, faz cócegas, sorri iluminada!
Esta luz mais amada…
Toca-me no refundido que vive (ainda…),
E sinto tudo o que antes sentira com um novo gosto.

Quando nasce em mim, sorrio de esperança
E sorrio de saudade quando ela me esquece,
Mas amo o brilho da pureza
O dar sem receber, a voltar a dar com gentileza…
A luz da estrela mãe aconchega-se na minha lembrança,
Porque a luz é luz, e tem luz como sua riqueza!
Na sua ideia, o meu corpo se aquece!

É por isso que amo a palavra “Sol”
Ama-me, aquece-me, abraça-me, expludo de vida…
Quando a escrevo com o meu magenta
O conforto que me acalenta,
É calor amado na minha mente,
Todo meu corpo o sente,
Consumindo cada momento, tal como uma despedida.






Renato Machado

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Um Pouco Winehouse

Aqui… por dentro,
As almas dançam no silêncio do som.
Exaltam o peso de mim em mim,
Exaltam a teimosa força de ser um dom…
Os perfumes… as formas… as luzes…
O vazio de um centro,
O desenho das cruzes,
Plantadas num horizonte sem fim…
Quadros que decoravam os meus pensamentos,
Quebraram amores com a beleza,
Quebraram pactos com a verdade…
Mas mentira…não existe… Lealdade!
Porque não me vence, nem luto pela incerteza
Mãe de todos os meus tormentos.
E quem consiga ver o meu coração
Que me diga onde o posso resgatar.
Por favor…Palpita-me oco o peito,
De jeito tosco…sem jeito…
Desajeitado, moribundo sem pressão…
Desesperado sem saber onde descansar…



Renato Machado

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A Mais Bela Verdade

O meu nome… ninguém o diz…
Amando o infinito, na mentira sou aprendiz…
E na mentira, consigo ser feliz.
No jogo de palavras, vinco a minha raiz…
Ah! Eu sou feliz!
Sei viver com este meu desalmado coração,
Talvez não seja viver… mas morrer, não!
Talvez seja uma luz que tenho a acender…
Aquele pequeno ensinamento a reter…
E sou assim, em mim sou feliz…

Não me detenho na hora de errar,
Vou em frente, porque vou errando.
Na mentira, o meu erro vai-se acertando,
E mal ou bem… hei-de lá errar…
Se eu ao menos não pudesse amar…
Se eu ao menos pudesse existir…
Se eu ao menos pudesse desiludir…

Tenho inveja da vida que a vida não me deu,
Tenho…
Por isso, desenho-a…
Em mim, retenho-a…
A força que o meu ser não escolheu…




Renato Machado

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Por Ti

Como a chuva que traz de novo a vida,
Sou um sopro fresco de esperança,
Sou a saudade que já vai morta…
Sou um sorriso que te entra pela porta,
E se aconchega na tua face desiludida.
Sou o que quiseres na tua vida,
Um demónio que infringe a aliança
Ou o rasgo de luz prevendo a bonança…

Sou tudo aquilo que me deixares ser,
Amando…
Respeitando…
Flutuando… serei luz que vem suavemente se vincando,
O mais sincero amar que exista no verbo viver.
Sou a sorte de realizar o teu mundo iludido,
O gole de sabedoria que te ilumina a mente…
Sou gente…
Sou humano por ti…
Até nas forças que me são alheias, me faço erguido.

Sou…fui… talvez o serei…
E com isso apenas, me contento.
Com o teu existir me alimento,
No teu respirar me invento…
Por ti… um dia serei…


Renato Machado

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Estranho-me...

Nem me sinto triste…
Nem me procuro nos recantos da solidão…
Não… se o meu ser, em mim existe,
Se nem ele da minha causa perdida desiste,
De que vale lutar p’lo negativismo em vão?
Não…
Sou um toque soturno de felicidade,
A névoa fria brincando no rosto de quem ri…
Divirjo… feliz… há sempre uma razão.
A dúvida persiste no que é a minha verdade,
A constante procura da minha trindade…
E eu… nunca saio daqui!
Aqui me plantei, aqui me cresci,
Uma árvore robusta, forte,
Um ser que não tem medo da morte
Mas tem medo da paixão…




Renato Machado

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ao Jardim de São Francisco

De que valem as pedras que piso?
De que valem as pedras que me sustentam?
Ai… valem…
Valem o peso com que me sepultam,
Os anos largos guardando o riso
Valem os rabiscos que simbolizam o paraíso…´
Ai… valem…
Valem o choro sobre elas derramado,
Valem o silêncio do passo errado…
Pedras que são, amanhã meu corpo o será,
Corpo que se ergueu do chão, ao chão regressará.



Renato Machado

sábado, 23 de janeiro de 2010

Masoquismo

Como viver aprisionado na luz,
Um ser que não voa, que não plana
Mas uma alma brava que recusa pousar…
E vai tacteando todas as partículas no ar,
Escutando as vozes na mente que lhe engana…
Vivendo cada segundo da solidão da Luz.
E o vento turbulento que sopra estagnado,
Vem ferozmente abraçar o vazio…
Paz… clareia o imaculado da confusão,
Paz… ordena por ordem a ilusão…
E o que se apura sem prumo nem brio,
Vem como um calor ardente de calafrio,
Aninhar-se no escuro que ficou passado.

É como voltar a viver cada momento
E não poder dizer que já antes o tinhas vivido…
Apoiando-se naquilo que não se tem e se quer ter,
Quando a voz que lá ao fundo grita, não chama pelo seu nome…
Mais nada… só o vento!
A jangada de sentimentos vai-se destruindo,
Peça a peça, lá se vai tudo o que lhe fez viver…
Nessa luz que lhe exausta, seca os limites, tira-lhe a fome…

Jura-lhe que o tempo passou,
Conforta-lhe no escuro, chora, se isso o acalmar…
Mas segue… o passado, lá atrás ficou,
O frio, a luz… tudo isso se evaporou!
A noite por fim, chegou…
É hora daquele ser voltar a sonhar…

Renato Machado

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sala de Espera

Alegria… amor… ilusão…
Um misto de significados,
Que nem misto parece ter.
E sou eu que estou aqui… na confusão,
No arrastar de cena sem razão,
Num prolongamento doloroso de pecados
Pois, nem já à sabedoria vou beber…

Estou só cansado.
Faminto de sossego, de silêncio, de paz!
Quero o alívio de cerrar os olhos, quero breu!
Quero…
Tem dias que desespero,
Mas espero…
Porque sei que até o mal tem outro lado.
Ai…A vida sabe sempre o me traz,
E por mais que o seja capaz,
Deixo-me levar p’lo significado que Ele o deu…

Cessem as buscas ao sentido,
Pousem as candeias, pousem a vontade…
Eu desisto!
Há-de vir quando chegar a hora
Quem me dera que o fosse agora!
Depois de tudo que já foi vivido,
Quem me dera até sentir saudade…
Mas para mim, ainda é um misto…

Há-de vir quando chegar a hora…
E eu lhe darei o meu significado.

Renato Machado

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Rabiscos...

Não há vento, apenas tu.
Não há silêncio, apenas tu…
Não há fome, não há sede
Não há guerra, não quero a paz…
Não quero nada…
Apenas tu!
E apenas tu para me trazer guerrilhas,
Só tu para me empunhar de estandarte rumo à linha da frente…
Apenas tu…
Tu… tu que me montas e salvas das armadilhas
Tu que te divertes na minha mente…
Apenas tu…
Mas quem és tu?
Quem és tu, que não consigo enxergar?
Quem és tu que me fazes sofrer?
O vazio… a solidão… eu sofro… quem és tu?!
Não me ensines a amar
Para mais tarde ter que te esquecer…
Quero-te em mim apenas no sonho
Não quero um toque, um som… não te quero!
Quero que sejas apenas tu.
O meu acordar de vida risonho,
O oculto, aquele que sei que ali está, mas nunca espero…
Quero que sejas apenas tu…




Renato Machado

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Um Dia Serei um Poema

Um poema não se faz com juízos de valor,
Nem se escreve a verdade se, for metricamente gesticulada.
Não. Um poema não é isso!
O poema tem que mostrar amor.
Amor p’lo que fala…em raiva… mas há que ter amor!
Isso sim é poema… e mais nada.
O poema é arte mágica que dispensa feitiço.
O poema não é dom de palavra,
Mas a palavra que se humaniza e quer viver.
Isso sim! Poema é imagem na imaginação.
Poema é dom de falar com a voz do coração.

E se eu pudesse ser um poema, sei que o seria!
Viveria a intensidade de cada expressão,
O secretismo de cada figura de estilo…
Encontraria em cada palavra a minha alma… encontraria.
Ser poema, ser poeta, ser alegria!
Porque a poesia é apenas isso, uma estranha sensação
E por minha vontade,
Que se dane a liberdade!
Pois eu, no meu poema me exilo…

Encontrarei como Ary, a felicidade na minha escrita,
Nos meus versos, no meu amor p’lo mundo… ou por nada.
Mas encontrarei! Tirarei da vida, a lição mais bonita,
Aprenderei que não só de pó se faz a estrada.
No teu poema… no meu poema…
No amor pelo homem… no amor pela palavra…
Um dia serei um poema!



Renato Machado

domingo, 10 de janeiro de 2010

Tenho Saudades

Tenho saudades…
Tenho saudades daquilo que não tenho,
Dos momentos que não vivi…
Saudades de lugares de onde nunca venho,
Saudades de imagens irreais que desenho,
Saudades de tudo o que nunca vi…

Tenho saudades de sentir saudade,
E sentir que a saudade de mim se alheou,
De mim se cansou…
Ah…tenho saudade…
Apenas de mim, não há saudade…
De mim cansei, porque de mim nada sobrou…

E tenho saudades de ser eu…
De ser ideia ao acordar, e poeta ao adormecer.
Ser luz rompendo o escuro,
Saudades de ser eu…
De ser talento que vive para crescer!
Ser bola atrevida que repica, e salta o muro…
Saudades da magia que sentia ao escrever…

Tenho saudades de tudo, menos do bem que fiz,
Para quê sentir falta daquilo que nem sempre quis?
Mas tenho saudades… e as saudades fazem-me feliz…

Renato Machado

sábado, 9 de janeiro de 2010

Apenas...

Apenas sou um ser
Um ser que tudo quis ser…
E ser alguém que não se deve ser.
Apenas uma certeza,
A certeza que o que está certo, nem certeza tem.
Com certeza…
Apenas na minha incerteza, vive este meu alguém….

Vivendo na luz do desejo,
E desejar não estar lá, para não o viver.
Ao viver erradamente na ofuscante luz do desejo,
É meu desejo!
Apenas o esquecimento do meu saber.

Não quero amar o amado,
Nem venerar o já gasto venerado,
Apenas um ser…
Um ser que impacientemente, espera crescer.
Um ser de luz iluminado ao sol do anoitecer…
Apenas um ser… que quer apenas ser.

Tristemente, lá se vai o que se sente,
Fica apenas réstias de quem sente.
Um rasto quase apagado de sentidos e sentimentos,
E sente que o que antes sentira, hoje nada sente…
Hoje nada nem ninguém o sente…
Sobra-lhe as histórias que conta aos sete ventos.



Renato Machado

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

São Silvestre

Ilumina-te escuro!
Faz-te luz em mil auroras!
Boreais… celestiais,
Brancas, roxas, cardeais.
É a piro das horas especiais,
Ao morrer o velho, o maduro
E o novo vem fresco sem mais demoras.
Escorre ouro branco pela garganta,
Borbulha o cavalgante desejar!
Orgulhosa é a esperança que se levanta,
Ao som da euforia que se encanta,
Se renova, revolta em discernimento,
Na ambição, o supremo sustento…
O ciclo finda e torna a começar.

É como se florescesse a ressurreição,
Oferecendo uma nova e única oportunidade
Em Silvestres louros de se conseguir realizar.
Num segundo… pede-se o mundo sem razão.
Pede-se a felicidade sem condição,
Pede-se tanto, e tão pouco, desprezando a verdade…
Tudo o que a mente possa imaginar!
Tudo aquilo em que o desejo avança sem se julgar!
Sem se denominar alucinação,
Apenas a distorção da realidade.
Que o que há de vir seja somente viver,
Somente a sorte de acordar.
Projectos… sonhos… ambição…
Somente o sangue bombeado p’lo coração,
Dando ao corpo por onde se erguer,
Confiante no “second-round” a conquistar.


Renato Machado